sábado, 20 de junho de 2009

Um sistema de estelionato e espoliação

"As diversas formas de "empreendedorismo", "trabalho voluntário" e "trabalho atípico" oscilam frequentemente entre a intensificação do trabalho e sua autoexploração. Dormem sonhando com o novo "self-made man" e acordam com o pesadelo do desemprego. Empolgam-se pela falácia do empresário-de-si-mesmo, mas esbarram cada vez mais na ladeira da precarização." (Ricardo Antunes em seu artigo "A Erosão do Trabalho")

"Algo cheirava podre quando eu me tornei o que eles chamam de 'equipe mundial algumas coisas já começaram a aparecer. Nesse ponto você passa a ter treinamentos onde as coisas vão ficando mais claras. Você começa a saber que o sistema sobrevive às custas do dinheiro dos distribuidores, se eles vendem ou não o produto é um mero detalhe, problema deles, o importante é que comprem, estoquem, joguem no lixo se quiser. Nas reuniões cansei de ouvir a liderança dizer que 'nesse evento temos que convencer as pessoas a fecharem supervisão...' (que corresponde a comprar R$9000,00 em produtos) '...pois isso nos garantirá quase R$1000 de comissões', ou então 'precisamos convecê-los a trazer pelos menos 5 pessoas no próximo evento" ou ainda "temos que mexer com o sonho das pessoas, desse jeito a gente os convence a vender até a mãe'." (Denúncia de ex-participante de um sistema de pirâmide existente no site do Reclame Aqui, cujo link consta no final de meu texto)




Muitos ou pelo menos alguns de nós já fomos assediados por alguém que, aproveitando-se de nossa condição de desempregado(a) ou subempregado(a) e sem perspectiva de inclusão no mercado formal de trabalho, alimentou-nos com alguma esperança de emprego ou renda estável mediante atividade ligada a vendas e/ou algum trabalho a ser feito em nossa própria casa, mas que na verdade não passava de um sistema de pirâmide. Ou ainda, de alguma proposta de emprego aparentemente muito promissora, mas que consistia em um esquema fraudulento de seleção e recolocação de pessoal feito por pessoas e agências de emprego inidôneas.


É verdade que pelo menos uma parte dos que se envolvem com esses sistemas (principalmente dos que são enredados por sistemas de pirâmide) não são pessoas desempregadas e sem recursos, muitas das quais com a auto-estima fortemente golpeada e já na condição de dependentes de entes queridos, mas sim pessoas relativamente bem situadas no sistema capitalista e movidas pela ânsia de sobressair-se economicamente nesse sistema.

Mas o convite à reflexão que deixo aqui é para que pensemos nesses autoempregos como produtos do capitalismo sob a égide neoliberal a vitimar os que dependem do trabalho para a subsistência. Ao final deste texto constam links de exemplos a serem lidos e apreendidos, apesar de que por vezes é difícil compreender o modus operandi dos estelionatários que aplicam esses golpes.

Com a intensificação da robotização e informatização dos sistemas de produção, prestação de serviços e comunicões ocorridos concomitantemente ao ressurgimento do liberalismo aplicado no mundo real (o neoliberalismo), milhões de seres humanos dependentes do trabalho para a subsistência se tornaram ainda mais descartáveis do que já o eram, pois consequentemente houve um aumento exponencial do desemprego, dos salários aviltados e da subumanização das condições de trabalho dos que dele dependem. Sob essas condições, estes se viram obrigados a submeter-se a trabalhos insalubres e pessimamente remunerados, ainda não abarcados pelas tecnologias inutilizadoras do trabalho humano, ou foram enredados por propostas de emprego e autoemprego que nada mais são do que puro estelionato.


Se antes da implementação e do aprofundamento do liberalismo aplicado no mundo real havia, em muitos países, o mecanismo da inflação a fazer perder o valor da moeda nacional e a subtrair parcela significativa da renda dos mais pobres, a partir da adoção desse sistema, por volta do início dos anos 1980 na Europa e nos EUA, estes passaram a se arrastar pela vida em busca do que seria o meio de troca estável (a moeda) para subsistir, tornando-se vítimas fáceis de estelionatos associados a ofertas de emprego e autoemprego.


Houve, então, um aumento dos assédios mais diversos por parte de estelionatários a pessoas desempregadas que ainda possuíam alguma renda e as quais eram oferecidos algum emprego ou empreendimento promissor, os quais ou lhes reinseririam no mercado de trabalho, ou os lhes fariam “empresários de si mesmo”. Ledo engano, pois grande parte desses autoempregos ou falsas propostas de emprego nada mais eram (e continuam sendo) do que puro estelionato, precariamente combatidos ou até deixados impunes por grande parte dos governos e instituições existentes no sistema liberal real (o neoliberalismo).


Diante do quadro exposto, constata-se que subsiste inabalável um sistema de exclusão, espoliação e subumanização das condições de trabalho dos que dele dependem, ao qual se acrescentam os mais diversos golpes de falsos empregos e autoempregos. Sob este sistema, aqueles que não estão e/ou não têm potencialidade para estar cliente, empreendedor ou capital humano dotado de qualidades ímpares para o sistema são sumariamente transformados em lixo ambulante não-reciclável, a servir de combustível (espécie de gás metano produzido pelo lixo orgânico) para alimentar a imensa, impávida e aparentemente indestrutível máquina do capitalismo neoliberal.
   




Observação: Utilizei o termo "subumanização" em lugar de precarização por considerá-lo mais adequado ao que está ocorrendo no mundo das relações entre trabalho e capital nos mais diversos países e regiões do mundo. Não sei se se trata de um neologismo nem se este termo já foi empregado por alguém.

A Erosão do Trabalho

http://www.unisinos.br/ihu/index.php?option=com_noticias&Itemid=18&task=detalhe&id=21881
    
Denúncia de Sistema de Pirâmide do site Reclame Aqui (1) http://www.reclameaqui.com.br/106383/herbalife/perca-um-pouco-de-tempo-mas-por-favor-leia

    
Denúncia de Sistema de Pirâmide do Site Reclame Aqui(2)
 http://www.reclameaqui.com.br/142079/stc-sistema-de-trabalho-em-casa-com-mala-direta-de-correspon/stc-e-uma-farsa-piramide


Denúncia contra empresa de recolocação publicada Pela revista Você S/A
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2003/04/252310.shtml  

Denúncia contra empresas de recolocação publicada Pelo site Jurídico Brasil
http://www.juridicobrasil.com.br/portal/index.php?tipo=2&cod=2&id_noticia=245785

domingo, 14 de junho de 2009

Os Trolls estão Soltos

Não é por nada, não, mas quem participar de algum espaço de discussão virtual que de alguma forma se opõem ao sistema de exclusão e de destruição do ecossistema (o sistema neoliberal) predominante, perceberá a ação de Trolls (plural de Troll) a serviço desse mesmo sistema. Essa ação consiste em sabotar tais espaços de diversas maneiras, pois imaginam que seus membros ofereçam algum risco a seus lucros no mundo real. Para conhecer melhor a definição de Troll, faça uma visita à página da Wikipedia e digite Troll no retângulo de busca.

Uma das estratégias de um Troll é desqualificar o seu oponente de modo a conseguir deixá-lo com muita raiva e com sua auto-estima atingida. Para obter êxito nessa estratégia, um Troll usará dos mais diversos estratagemas . Um desses estratagemas será disfarçar-se de ou imaginar-se de fato superior intelectualmente a quem quer desqualifiar e ridicularizar, exibindo fatos e teses pretensamente científicas para “demolir” seu oponente e quem ouse a se lhe opor. E o faz, claro, não poderia deixar de ser, justamente nos espaços cibernéticos onde se agrupam os opositores de suas idéias. Eu mesmo já fui vítima dessas estratégias-Troll, parte das vezes executadas até mesmo por perfis aparentemente verdadeiros, em diversos espaços de discussão (o Orkut é um exemplo desses espaços), principalmente quando era neófito no mundo das discussões cibernéticas.

Ora, se eu, vítima de um ataque Troll, não sei nada de X, nem de Y, nem de Z, supondo que essas letras abarquem todos os conhecimentos essenciais à compreensão mínima do si mesmo, da vida e do sistema ao qual estou subordinado, por que esses Trolls se incomodam tanto comigo e com quem pensa igual ou semelhantemente a mim? No campo da oposição ao neoliberalismo (ou liberalismo real, se preferir), por exemplo, somos apenas poucas dezenas de internautas que de fato se manifestam em uma ou outra comunidade de discussão virtual com chances quase nulas de influenciar de fato um número significativo de pessoas. Prova disso são as mudanças apenas cosméticas – se é que foram feitas – feitas no sistema da exclusão e da destruição do ecossistema ao longo de todo esse tempo em que existe no mundo real.

Ora (de novo), se defendemos nossas teses e contra-argumentamos as deles, Trolls, como, por exemplo, "crianças de 5 anos" (sic), qual o perigo real que oferecemos para seus ganhos no mundo das finanças? Qual o perigo real que oferecemos para os Trolls empreendedores, que trabaiam pra carai em suas empresas, exigem mais e mais reformas neoliberais e não têm tempo sequer para defenderem suas teses nos espaços cibernéticos? Ops ... , peraí ...será que não têm mesmo? Lógico que têm; e bastante, hein. Sim, pois já vi mais de um que se dizia empresário ou consultor do mercado financeiro dispor de período significativo de tempo para combater "os grandes culpados de eles não ganharem a quantia de dinheiro que poderiam estar ganhando caso não existíssemos".

Chamemos algum psicanalista de crianças, pois há adultos imaginando-se maduros emocionalmente e dizendo que as crianças são os que se opõem a sua cartilha do Único Caminho, da Única Verdade, e da Única Possibilidade de subsistência da vida no planeta Terra, mas na verdade são eles próprios as crianças birrentas e frustradas por terem seu mundo imaginário e seus quereres questionados.

Os Trolls devem ser combatidos como Trolls. Os extasiados pelo site Mises.org (site preferido de muitos liberais e anarcocapitalistas), idem (mesma coisa). Quando interrompemos o fornecimento de energia para esses defensores intransigentes do capitalismo selvagem deixando de nos abatermos e de nos enredarmos por suas estratégias, em algum momento eles caem fora. Às vezes é necessário fazê-los acreditar que sua ação foi o suficiente para “demolir” a razão de ser de eles não serem melhores do que são. Cedo ou tarde a realidade vem e lhes dá uma lição, e esta consiste na própria realidade – que eles se negam a aceitar - de  que não há pior inimigo do sistema que tanto idolatram do que eles mesmos com suas ações no mundo real, e não os inimigos imaginários que suas respectivas psiques criaram para justificar seus ganhos aquém de suas expectativas.

Observação: este artigo é uma adaptação de um "post" que escrevi em uma comunidade cibernética de discussão - comumente chamada de site de relacionamento -, o qual foi sendo lapidado aos poucos até chegar a sua versão atual.