sábado, 31 de março de 2012

Violência, muita violência 1

Ao ler e assistir ao vídeo de matéria sobre o espancamento de um morador de rua por cinco rapazes, em uma praça da Ilha do Governador, na Zona Norte do Rio de Janeiro, e de Vitor Soares Cunha que interveio para protegê-lo, me vieram à mente o insigth óbvio e ululante que tive faz algum tempo: o de que no mundo dos seres ditos humanos prevalecem pelo menos sete "sentimentos", de uns para com outros, sendo que, excluído o da indiferença, que se constitui em uma ausência de sentimento a ser melhor exposta por psiquiatras, psicanalistas e psicólogos, passam a ser quatro ou seis: o desprezo, a raiva e/ou o ódio, a exclusão e/ou a marginalização, e a discriminação. Completa-se esse quadro com a violência, muita violência, verbal, gestual e física, que se transforma no elemento  exteriorizador da indiferença e dos demais sentimentos citados.

Vitor Soares (ou Suares) Cunha, um jovem de coragem, muita coragem, viu um morador de rua sendo espancado por três, quatro ou cinco jovens em uma praça na Ilha do Governador, e tentou impedir que ele fosse morto ou seriamente ferido, sendo por isso o novo alvo da violência dos rapazes e tendo sido bastante ferido pelos golpes desferidos covardemente por eles.

Essa violência que assistimos aumentar por motivos fúteis antes ou após alguns jogos de futebol, em discussões nas vias de trânsito de automóveis que terminam em troca de socos e pontapés, ou direcionada a moradores e moradoras de calçadas, praças ou sob viadutos, e que visa a arrebentar ou até dar cabo na vida de quem é o alvo da vez, se faz cada vez mais presente em um país que outrora, faz muito tempo, lá pelos idos dos anos 1950 do século passado, até parecia ser um país de baixo índice de violência em muitas de suas cidades, mas que em algum momento, por razões que não se explicam tão-somente pelo predomínio da concentração de renda e de riqueza nas mãos de poucos, por essas terras, a partir do golpe militar, em 1964, ou da implantação do capitalismo selvagem com suas vestes neoliberais a partir do final dos anos 1980 e início dos anos 1990, mas igualmente por razões que somente um grupo de psicanalistas, psiquiatras e psicólogos muito bons, e outros estudiosos da psique humana verdadeiramente sensibilizados pelo tema, poderiam nos dar alguns porquês de sua existência.





Aos poucos que visitam este blogue e gostariam de ler os textos na íntegra que aqui recomendo peço que acessem o link abaixo ou, se preferirem, digitem em algum sistema de busca as seguintes palavras-chave: “Presos dois jovens acusados de espancar mendigo e estudante no Rio" e acessem o texto por esse meio.




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quinta-feira, 29 de março de 2012

Privatização e Desnacionalização

O artigo de Adriano Benayon intitulado "Brasil Privatizado e Desnacionalizado", para o qual coloquei um link,  nos revela o quanto são efêmeros os números que se nos apresentam da economia brasileira, pois continuam submetidos à lógica de um sistema que endeusa a minimização dos custos e a maximização dos lucros para o deleite dos grandes empreendedores e especuladores, nacionais e transnacionais, e de seus agregados ditos "capitais humanos" (aqueles e aquelas que, em um certo tempo e espaço, desfrutam de parte dos capitais investidos em razão de seu diferencial em termos de conhecimento intelectual, técnico e/ou científico).

É frágil a estrutura econômica de um país que se embasa em exportação de commodities (petróleo bruto, minério de ferro, soja e farelo de soja, carne bovina, suína e de aves, etc) ou que pretenda tornar suas indústrias competitivas à custa de reformas estruturais que impliquem em desemprego, subemprego (vide propostas de reformas trabalhistas de empresários e investidores e na defesa do chamado Estado mínimo) e abandono à própria sorte de milhões de seres humanos desvalidos, rejeitados pelo mercado e que necessitam de um trabalho digno para sobreviver, e de igual modo à custa de privatizações e concessões a consórcios de empresas privadas nacionais e transnacionais de serviços essenciais e estratéticos.

Fragilizados e espoliados se tornam, igualmente os funcionários públicos vinculados à CLT (ou mesmo a estatutos) e que são demitidos pelos consórcios privados - às vezes integrados até por fundos de pensão de bancos e empresas estatais que sobreviveram às privatizações do governo de Fernando Henrique Cardoso -, que assumem o comando das ex-empresas estatais ou serviços públicos concedidos por longos anos, e também os usuários e consumidores de serviços essenciais e estratégicos privatizados ou concedidos à iniciativa privada e tornados mais caros, ao contrário do bombardeio de expectativa no sentido contrário, feita por poderosos veículos de comunicação.

Por trás dos clamores de representantes de grandes e médios industriais, agroindustriais, comerciantes, empresários, banqueiros e investidores há o forte desejo de que se extingam, através de reformas tais quais a reforma fiscal, a tributária, a da previdência, a administrativa e outras à la elite econômica, diversas despesas direcionadas aos mais pobres, à classe média baixa e até a classe média, ao mesmo tempo diminuindo o tamanho do Estado e direcionando parte significativa dos recursos de um Estado diminuído aos investimentos em infraestrutura para o escoamento de produtos destinados à exportação (as commodities já citadas), e a empéstimos de longo prazo feitos por bancos públicos tais como o BNDES, a juros baixos, e que depois de algum tempo cumprindo essa função sejam privatizados.

 
 
 
 
Aos que são verdadeiramente de esquerda (os verdadeiros socialistas) e de centro-esquerda (social-democratas, trabalhistas e ambientalistas de uma dessas duas vertentes) recomendo a leitura na íntegra e com muita atenção do artigo de Adriano Benayon intitulado "Brasil privatizado e desnacionalizado" para o qual coloquei um link logo abaixo. Se preferirem, por motivo de segurança ou outro, procurem o mesmo artigo digitando em algum sítio de busca as palavras-chave "Brasil privatizado e desnacionalizado", seguidas de "Adriano Benayon" e "Caros Amigos" e acessem o texto por esse meio.

 

Os textos abaixo são para melhor auxiliar os leitores na compreensão da linguagem econômica. Se preferirem, digitem em algum sítio de busca as palavras-chave que dão títulos aos links e acessem os textos por esse meio.





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segunda-feira, 26 de março de 2012

O indivíduo sem sociedade

Uma das teses que sobressai do muito bom texto de Franco Cassano é a da incorporação psíquica, por parte significativa dos mais pobres e das classes médias (média baixa e média), da crença de que é possível integrar-se à elite – ou pelo menos estar próxima dela - aplicando-se no trabalho tal qual alguns de seus expoentes dizem ter-se aplicado, e dedicando-se por horas aos estudos e aulas de qualificação e requalificação profissionais.

De igual forma, é possível incorporar-se à elite pensando e sentindo tal qual ela pensa e sente, e absorvendo as teses expressas por pretensos sapientes que lhes defendem os interesses mesquinhos em imagens, sons, letras e símbolos.

Franco Cassano não diz isso da forma tal qual fiz nos dois parágrafos supra, mas creio que o que escrevi também se insere em sua tese. Abaixo transcrevi alguns trechos (colocados entre aspas) do muito bom texto publicado no sítio da Carta Maior.

"Mas seria profundamente equivocado limitar-se a observar só o que acontece nas altas camadas da sociedade, o conflito entre as elites. Se a contraofensiva liberal tivesse ficado nas instâncias do novo poder não teria conseguido se afirmar, como aconteceu depois, e teria se encontrado diante de uma imensa massa de inimigos. Em vez disso, ela desbaratou o adversário porque se mostrou capaz de produzir uma forte e capilar hegemonia. A grande narrativa que ela propõe sabe falar também ao povo, porque colocou no centro do imaginário o tema da afirmação individual, do sucesso: para realizar os nossos sonhos, não precisamos dos outros, mas só de uma grande confiança em nós mesmos. O vínculo com os outros pode apenas nos bloquear, enquanto, se formos completamente indivíduos, um mundo inteiro está à disposição".

"A sociedade não existe, existem apenas os indivíduos", dizia Thatcher, e a única mediação possível entre indivíduos sozinhos diante do próprio destino é a do mercado. O primado do mercado une os capitais sem fronteiras e os sonhos dos indivíduos."

"Os projetos e o coração dos homens se transmigraram para fora da política. A esta última cabe apenas a tarefa de garantir a liberdade de movimento dos indivíduos e das mercadorias, e um grau mínimo de ordem pública. A sociedade civil não é mais o lugar de formação das demandas coletivas, mas sim a trama dos interesses privados, não é a ágora (vide significado de ágora), mas sim o mercado."

"Mas, depois de três décadas de hegemonia incontestada, esse tratamento fundamentado na liberdade dos capitais e do indivíduo, começa a dar sinais de desgaste. A nossa sociedade é atravessada por dilacerações e por desigualdades crescentes produzidas em grande parte pelos jogos imprudentes do capital financeiro. Mas a hegemonia liberal começa a se desgastar também nas camadas baixas, porque a carta do individualismo não consegue mais suportar o peso que lhe foi descarregado em cima, não consegue mais subir mais o plano inclinado das desigualdades crescentes. Certamente, ela ainda consegue manter os homens longe uns dos outros, impedir que reconheçam o que eles têm em comum, mas remunera cada vez menos."

"... a irresponsabilidade do capital financeiro tornou-se indecente, e a timidez com que ela é enfrentada pelos governos do mundo é cada vez menos aceitável."




Aos poucos que visitam este blogue e acessam os textos que recomendo coloco o link para o texto de Franco Cassano na íntegra, ou, se preferirem, digitem em algum sistema de busca as palavras-chave “Assim o indivíduo sem sociedade anulou a política”, seguido de “Carta Maior” e acessem o texto através desse meio.



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sexta-feira, 23 de março de 2012

Estatísticas e Realidade 1

É possível que tenha havido alguma melhora na condição de vida de milhões de pessoas que dependem do trabalho para a subsistência a partir do governo de Luís Inácio Lula da Silva, pois foi nesse governo que se caminhou para alguma distribuição de renda e de riqueza não apenas através das ações do Estado nas áreas de assistência social e previdência, mas também através do próprio crescimento econômico experimentado pelo Brasil no citado governo, o qual propiciou a geração de empregos e de renda nos setores público (instituições e empresas estatais e de capital misto) e privado.

Houve aumentos no valor do salário mínimo que deram impulso significativo para que a chamada redistribuição de renda se fizesse em algum grau no Brasil após décadas de concentração de renda ocasionada não apenas pelo processo inflacionário, como fazem questão de destacar muitos economistas e pensadores de diversas áreas, além de membros da elite econômica, mas também por uma estrutura tributária e  legislação trabalhista favoráveis (acreditem se quiserem, pois vai contra a opinião esmagadora vigente propagada por poderosos veículos de comunicação) aos grandes e médios empresários, banqueiros, investidores, agroindustriais e outros.

No entanto,  as medidas tomadas pelo mencionado governo foram e continuam sendo insuficientes para de fato inaugurar uma era de desconcentração de renda e de riqueza no Brasil, pois o sistema econômico adotado não favorece essa desconcentração.

Quanto à chamada classe C, ela certamente é muito menor do que a propagada pelo governo e por acadêmicos como Marcelo Néri, pois muitos dos que foram incluídos nessa classe não estão estruturados em alicerces firmes, e tampouco possuem renda e riqueza suficientes que possam enquadrá-los nessa classe.



Aos poucos que visitam este blogue e gostariam de ler os textos na íntegra que aqui recomendo peço que acessem o link abaixo ou, se preferirem, digitem em algum sistema de busca as seguintes palavras-chave: “Como o Brasil virou o País da classe C”, seguido de “Fernando Dantas”, e acessem o texto por esse meio.


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domingo, 18 de março de 2012

Os verdadeiros sacerdotes do templo

Os verdadeiros "sacerdotes" do templo não são os que dependem do trabalho para sobreviver, tais como muitos dos que trabalham no "templo" e fora do "templo", mas sim uma pequena elite que se locupleta do trigo do templo ao mesmo tempo em que condena os citados chamando-os de "sacerdotes" para que a gente comum, que trabalha fora do templo, clame para que sejam tirados dos ditos "sacerdotes", que na verdade são gente comum tais como ela, seu único meio de subsistência.


"Me desculpe Sr Krugman, mas os governos não são auto-suficientes. Os postos de trabalho no governo são mantidos pela produção do resto da sociedade. Se não há trigo suficiente para alimentar todos os sacerdotes no templo, é hora de demitir alguns sacerdotes, para que sobre mais trigo na mesa do camponês, e eventualmente que essas mãos também trabalhem nos campos.

Mas Krugman diria: E o comerciante que vendia relíquias religiosas para o templo? Este nem faz parte do templo e também perderá seu emprego se o templo for parcialmente fechado. As relíquias religiosas representam uma parte da riqueza desta vila, que agora irá desaparecer. E está absolutamente correto. Este comerciante existia para satisfazer... uma demanda do templo, e não da sociedade como um todo. Ou seja, mais uma mão para ser aproveitada nos campos, que vão precisar de ferramentas e manutenção, e não de relíquias religiosas. A percepçao de valor nestas relíquias não era permanente. Os horários de trabalho serão prolongados, a vila precisará esperar um número de anos para ter algum resultado positivo.

Quem sabe algum desses sacertotes, dispensado de sua rotina religiosa, não inventa uma nova técnica de produção? Isto poderia acelerar a recuperação. Ou seja, uma economia que passa por uma bolha, como é o caso da Grécia, precisa reorganizar toda sua estrutura produtiva. O processo involve muitas demissões e muito sofrimento, porque é sempre difícil se habituar com menos quando você tem mais. Mas infelizmente é o preço a pagar pela distorção que foi causada nos anos anteriores."



Entre aspas, no formato courier e em tamanho maior para diferenciar-se de minha contra-argumentação, o comentário de Juliano Torres ao texto de Paul Krugman intitulado "Deixem o cinto para lá" (o link para o texto consta logo abaixo), escrito em 12 de março de 2012 no site do Estadão, o qual, respeitosamente contestei no próprio sítio do Estadão, e também no primeiro parágrafo de meu texto.


Deixem o cinto para lá - por Paul Kurgman

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