sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

A força destruidora e autodestruidora

É possível que o sistema capitalista, especialmente o de vertente neoliberal, não tenha semeado o suficiente de desgraça, de sofrimento, de condução à morte por fome e subnutrição, de crimes, genocídios e de espoliação da grande maioria dos seres humanos, nem destruído ainda o ecossistema na intensidade e abrangência necessárias para que se produza a sua autodestruição, como sistema, e talvez da humanidade inteira, por isso ainda permanece firme e forte, aparentemente muito bem estruturado e sem exibir fissuras e rachaduras em suas estruturas.
 
Os vários movimentos, personagens e fatos históricos que surgiram parecem ter contribuído, de alguma forma, para que esse sistema retardasse um pouco a sua expansão e a plena fluidez de sua pulsão de morte. É nessas forças contrárias à grande força do sistema espoliador, homicida, destruidor e autodestruidor que Chavez se enquadra, como uma passagem de luz em meio a um umbral. Luz que passa, traz alguma esperança aos espoliados de olhar vazio, mas em algum momento se vai, e há o retorno do sofrimento sem fim.
 
Mais do que líderes ímpares que surgem de tempos em tempos, às vezes em espaços de tempo grandes, existe a necessidade urgente de consciência, por parte dos condenados a uma vida sem vida sob o sistema capitalista,  do que é esse sistema e do quanto ele ameaça suas vidas e dignidades, e de muita, muita força por parte desses condenados a fim de fazer frente à força espoliadora, excludente, destruidora e autodestruidora representada por esse sistema.
 
Sem isso, não há esperança.
 

domingo, 9 de dezembro de 2012

Financeirização, oligopolização e barbárie

Os dois textos de François Chesnais, escritos originalmente para o Sin Permisso e publicados também no sítio da Carta Maior, são longos e de difícil compreensão para os que há pouco tempo iniciaram suas leituras sobre os temas abordados, mas partes deles são compreensíveis e nelas aprendemos, entre outras coisas, aquilo de que tomamos conhecimento em boas e muito boas aulas de História ministradas nos cursos secundários, em cursinhos preparatórios para os vestibulares de diversas faculdades e em mídias diversas (no You Tube, por exemplo). Qual seja: o de que a nova fase do sistema capitalista consiste no domínio do sistema financeiro, na constituição de poderosos monopólios e oligopólios nacionais (isto é, dentro das próprias fronteiras nacionais) e transnacionais, e na mundialização (muitos preferem a expressão globalização) desse sistema.
 
Neles somos informados de que houve e continua a haver uma mundialização do sistema capitalista com uma consequente maior interconexão dos mais diversos países para (a sequência é de minha autoria) uma maior e melhor expansão desse sistema, principalmente após o “esboroamento” do chamado “socialismo real” e da paulatina sabotagem de todo e qualquer governo que pretenda implantar qualquer tipo de sistema econômico que traga de volta, mesmo que apenas em alguns aspectos, o que um dia chamou-se Estado de bem-estar social.
 
Somos também informados de que “A tendência é endurecer as políticas de austeridade e montar uma operação de resgate total de grandes instituições financeiras, bancos e empresas) da qual não escape nenhum país. No entanto, a situação europeia não pode ser compreendida independentemente da consideração da situação da economia mundial em sua totalidade”, o que vem a corroborar com a tese exposta no parágrafo anterior, pois (idem ao parentesis do parágrafo anterior) essas políticas de austeridade vão no sentido de aproveitar-se de uma crise financeira (em sua origem) e econômica construída pelo próprio sistema capitalista neoliberal para desfazer e extinguir toda uma estrutura de Estado voltada para conceder um mínimo de proteção social às pessoas que por alguma razão não conseguem  viver de seus próprios recursos, ou que integravam a estrutura do estado (servidores públicos e funcionários de empresas de serviços essenciais e/ou estratégicos), ou ainda, que contribuíram para o sistema de previdência do tipo repartitivo do próprio país, além de abolir leis que visam a proteger a dignidade dos que dependem do trabalho para a subsistência.
 
Assim procedendo, a elite econômica (associada à transnacional e sendo ela própria transnacional) europeia extingue ou privatiza a parte do Estado voltada para a prestação de serviços essenciais à preservação da vida e dignidade humanas, bem como os estratégicos, e se concentra no subsídio ao capital, não necessariamente tornando-o mínimo, como querem ansiosa e raivosamente os mais radicais defensores do Estado mínimo, pois a manutenção de verdadeiras máquinas de guerra e de sistemas de segurança internos requer, muitas vezes, vultosos recursos, ocorrendo o mesmo no que tange ao socorro de grandes instituições financeiras e empresas tal como visto na crise atual iniciada nos EUA e espraiada por divesas outras regiões do mundo.

Percebe-se, nas entrelinhas dos muito bons textos de Chesnais, apesar de dito de outra forma, que um dos pilares fragilmente estruturados do sistema capitalista neoliberal são empréstimos, nas suas mais variadas formas, que são utilizados para de um lado gerar mais lucros para uma minoria (a elite financeira e dos grandes oligopólios), e de outro para possibilitar que classes sociais fortemente espoliadas pelo próprio sistema possam retroalimentar o mesmo sistema excludente e espoliador sem que os estruturadores desse sistema se preocupem com seu caráter autodestrutivo.
 
Sob esse sistema excludente e de horror está toda a humanidade, não escapando sequer minorias que vivam em partes pouco habitadas dos continentes ou em ilhas, pois as atividades do sistema e sua máquina de sucção de recursos naturais e de biodiversidade não poupam lugar algum em que estes existam, a esta máquina sugadora se soma o caráter destrutivo do sistema que ameaça a vida humana e a de muitas espécies animais e vegetais por toda a parte.
 

 
A luta de classes na Europa e as raízes da crise econômica mundial - Parte I
François Chesnais - Sin Permisso e Carta Maior
09/07/2012


 
A luta de classes na Europa e as raízes da crise econômica mundial - Parte II
François Chesnais - Sin Permisso e Carta Maior
20/07/2012


 

sábado, 3 de novembro de 2012

Resistência ao Neoliberalismo

O neoliberalismo (ou liberalismo econômico aplicado no mundo real, ou ainda, se preferirem, o capitalismo neoliberal) continua a ser implantado nos mais diversos países do mundo, apesar da negação desse fato por parte de muitos liberais, liberais-conservadores, fasciliberais e anarcocapitalistas por pretenderem a continuidade e o aprofundamento da implantação desse sistema.
 
Sob a ideologia neoliberal o Estado diminui drasticamente de tamanho nas áreas de proteção à vida, à dignidade e ao desenvolvimento humano (assistência médica pública, gratuita e digna de seres humanos, educação elementar, média e universitária pública, gratuita e de qualidade, previdência social em regime de repartição, assistência social, fornecimento de água tratada e coleta de esgotos, e muitas outras), as quais são privatizadas ou concedidas à chamada iniciativa privada ou entidades ditas "sem fins lucrativos" (muitas das quais são instrumentos para enriquecer ainda mais e dar mais poder a políticos, membros do governo e da elite econômica "nacional" e transnacional em conluio), e restringe sua atuação à defesa da propriedade e à coerção para que haja o cumprimento de contratos, não importando aos que controlam o Estado se essa defesa e essa coerção atentam ou não contra a vida e a dignidade humanas, nem contra a sobrevivência do ecossistema.
 
Sob este sistema são exigidas (principalmente pela elite econômica "nacional" e transnacional, mas também pela classe média individualista e reacionária) e feitas as chamadas reformas estruturais, as quais se traduzem nas privatizações e nas concessões já citadas, e também em precarização e até subumanização das relações de trabalho, demissão de funcionários públicos (principalmente dos que não pertencem às chamadas carreiras de Estado) abertura e desregulamentação da economia ao sistema financeiro transnacional, às importações de produtos e à atuação das empresas transnacionais, além do desfazimento de toda e qualquer regra que impeça o funcionamento do chamado "livre mercado" e outras medidas (impostas por organismos como o FMI, Banco Mundial e Organização Mundial do Comércio, entre outras) que objetivam satisfazer fundamentalmente o investidor, o empreendedor, o capital humano e o cliente, e não os que necessitam do trabalho para subsistir e muito menos ainda o ser humano e seu valor em si .

Ajudem-nos, por favor, a conscientizar as pessoas do que significa a implantação da ideologia neoliberal, da ideologia fasciliberal (mistura de liberalismo ou neoliberalismo aplicado no campo econômico com o fascismo aplicado nos campos político, social e institucional) e do anarcocapitalismo no mundo real.
 
 

O texto supra consta (ou constava) da descrição da comunidade Resistência ao Neoliberalismo, que foi criada por mim no Orkut em junho de 2005 e, após atingir o número de mais de cinco mil filiados, está se extinguindo aos poucos para o alívio de muitos defensores da ideologia que transforma seres humanos em lixo ambulante não-reciclável, e destroi o ecossistema sem preocupar-se com as consequências, pois a avidez por poder e riqueza é muito mais forte. O apelo, ao final do texto, continua válido, principalmente com os fatos de que temos tomado conhecimento sobre a Grécia, Portugal, Espanha, Irlanda, Itália, Inglaterra e tantos outros, para os quais a ideologia neoliberal se impõe com força revigorada. 
 
 

terça-feira, 30 de outubro de 2012

A Criminalização das reivindicações sociais na Espanha

A matéria de Naira Hofmeister e Guilherme Kolling, de Madrid para a Carta Maior, nos mostra que não é apenas em países ditos subdesenvolvidos ou “emergentes” que parte (ou grande parte) de uma elite econômica se esforça por criminalizar movimentos sociais que se opõem à ideologia capitalista neoliberal. Também na Espanha dos 25% de desempregados (o índice provavelmente é maior e maior ainda entre os mais jovens) e da destruição paulatina do que ainda existe de Estado de bem-estar social usa-se essa estratégia.
 
Na semana que abarca o final do mês de outubro de 2010, um grupo de indignados com a condução do governo espanhol pelo primeiro-ministro liberal-conservador Mariano Rajoy postou-se diante do Congresso Nacional espanhol para protestar contra a possível aprovação de um orçamento federal que pretende destinar mais recursos ao pagamento de dívidas contraídas ilegitimaente pelo governo e infladas artificialmente por banqueiros, tecnocratas e investidores ao emprestarem tais recursos ao governo para que este os use no pagamento das mesmas dívidas ilegítimas.
 
Dívidas estas feitas em moeda supostamente forte para países como Espanha, Portugal e Grécia, só para citar três países que agonizam diante de uma crise sem perspectiva de fim, teve os recursos provenientes delas usados principalmente para enriquecer setores empresariais e financeiros espanhois e de outras nacionalidades, e que geraram uma ilusão de prosperidade para grande parte da gente comum desses países durante anos, tendo um fim traumático quando do estouro da bolha financeira norte-americana por volta de 2007-2008, a qual não tardou para reverberar nos sistemas financeiros e na economia do Velho Continente.



Leiam, por favor, na íntegra com atenção e reflexão a muito boa matéria de Naira Hofmeister e Gulherme Kolling, de Madrid, intitulada “Indignados não se intimidam com repressão e voltam às ruas”, publicado no sítio Carta Maior, e que serviu de base para o pequeno texto supra. Quem preferir localizar o link para matéria usando algum sistema de busca, faça-o com usando as palavras-chave contidas no link abaixo e seguidas de Naira Hofmeister e Guilherme Kolling.

Indignados não se intimidam com repressão e voltam às ruas
Naira Hofmeister e Guilherme Kolling, de Madrid
28/10/2012

domingo, 28 de outubro de 2012

A reeleição de Chavez - outubro de 2012

O presidente da República Bolivariana da Venezuela, Hugo Chavez, venceu mais uma eleição para a Presidência da República desse país no dia 07 de outubro de 2012, em um pleito que não teve sua legitimidade contestada nem sequer por aquela revista semanal, sediada em São Paulo, cujo nome consta de um dos modos e de um dos tempos em que o verbo ver é conjugado, nem por alguns personagens televisivos reacionários que ganham para destruir imagens e ideologias contrárias as deles (ou delas) próprios e as de seus superiores hierárquicos.
 
Mesmo em eleições e nos vários plebiscitos ou referendums anteriores em que Chavez foi o vencedor, instituições como a fundação Carter e a OEA (Organização dos Estados Americanos) atestaram a lisura das eleições e das consultas, mas os veículos de comunicação sediados no Brasil nem sempre as reconheceram. Para estes, representados por bem articulados e sapientes reacionários, especialistas em difundir mentiras e/ou meias verdades, além de caluniar, difamar e injuriar todos os que frustram seus objetivos, Chavez usou e continua usando de seu poder descomunal para perpetuar-se no poder, aplicar sua política econômica “populista” e levar o país ao caos econômico e social, omitindo nos mesmos veículos de comunicação que  as políticas econômicas aplicadas em vários países europeus atualmente os leva para esse mesmo caos - se é que a política econômica aplicada pelo governo Chavez levará a Venezuela ao caos, como dizem.
 
Durante anos, desde que o governo de Chavez iniciou sua caminhada para o que seria ou pretende ser o socialismo do século XXI - é incerto o futuro de tal socialismo quando Chavez morrer sem deixar sucessores a sua altura ou, pelo menos, um partido que se mantenha fiel aos princípios da ideologia bolivariana e socialista -, raivosos reacionários vestiram-se de pregadores do (e torcedores pelo) caos venezuelano. Secretamente ou descaradamente vibraram quando houve a tentativa de golpe de Estado contra o governo de Chavez, em abril de 2002, e voltaram a revoltar-se quando viram que tal golpe fracassara.
 
Para esses reacionários não pode mais haver qualquer governo cuja ideologia e política econômica não estejam alinhadas com a nova fase do capitalismo, caracterizada pela financeirização da economia e pela oligopolização e monopolização dos mais diversos setores econômicos, a não ser, talvez (e ainda assim somente para parte deles) por um breve interregno, após o qual possam apregoar, através de seus poderosos veículos de comunicação, que tal sistema alternativo ao sistema capitalista neoliberal fracassou por ir contra os principais pilares desse sistema.
 
 
Nos parágrafos subsequentes transcrevi alguns trechos do muito bom artigo de Luciano Wexell Severo, publicado na Carta Maior e que serviu de apoio para o pequeno texto supra. Leiam-no na íntegra acessando o link existente logo após os parágrafos abaixo ou procurem-no em algum sítio de busca digitando as palavras-chave: “Povo venezuelano derrota a oligarquia e o imperialismo” e Carta Maior.

Coloquei também um link para o bom artigo de Antonio Martins intitulado “A vitória de Chavez e seus significados”.
 
 
O objetivo deste artigo é chamar a atenção para o avanço da participação política e demonstrar que há uma tendência crescente de ampliação do apoio popular a Chávez desde a sua primeira eleição em 1998. Isto ocorre apesar da campanha dos grandes meios de comunicação do país contra o processo de mudanças. Há uma vertente de opinião no Brasil, uma farsa inventada pela Folha, pelo Globo, pela Veja, pelo Estadão, pela Zero Hora, de que Chávez tem a supremacia dos meios de comunicação. É uma afirmação patética. Na Venezuela, os grandes meios de televisão, rádios, jornais e revistas ainda seguem nas mãos da elite apátrida, liberal e pró-americana, exatamente como o Partido da Mídia Golpista (PIG) no Brasil.
 
A proposta de Reforma Constitucional de 2007 foi a primeira e única derrota eleitoral de Chávez. De maneira pouco planificada, o governo tentou aproveitar o elevado índice de popularidade do projeto bolivariano para queimar etapas. Propôs a modificação de 69 dos 350 artigos da Carta Magna de 1999. A iniciativa foi derrotada: 50,7% (4.379.392 de votos) contra 49,3% (4.504.354 de votos). Uma diferença de menos de 125 mil votos em um universo de quase 17 milhões de aptos a votar. A expectativa da oposição estava sustentada nesta vitória apertada contra a Reforma, não exatamente contra Chávez. Por um lado, a oposição apoiada pelos grandes meios de comunicação e pelo Departamento de Estado dos Estados Unidos relacionou sua magra vitória na Reforma com um suposto rechaço a Chávez. Por outro lado, é possível supor que quase 3 milhões de partidários de Chávez não associaram a Reforma com o presidente. A abstenção foi de 45% e podemos dizer que nesse dia muitos chavistas simplesmente não foram votar.
 
A nova vitória do presidente, agora em 2012, amplia o horizonte das transformações estruturais da Venezuela. O governo fortaleceu o papel do Estado na economia, com maior poder para planificar e executar políticas, buscando interferir –com crescente participação popular– nos principais meios de produção. Internamente, o dinheiro do petróleo tem financiado um processo de diversificação produtiva e de fortalecimento do mercado interno, um esforço por uma industrialização soberana, a criação de novas empresas básicas e a execução de importantes obras de infraestrutura.
 
Paulatinamente, os recursos que antes eram canalizados para as companhias petroleiras ou para contas bancárias da elite privilegiada, foram transformados em ferramenta do Estado para combater a pobreza e a economia rentista, improdutiva e importadora. Externamente, os recursos do petróleo foram utilizados como instrumento para a integração latino-americana e caribenha, assim como para o impulso à construção de um mundo multipolar. A Venezuela assumiu uma nova posição em suas relações internacionais: tenta diversificar sua produção e suas exportações; diversificar as origens e os destinos do intercâmbio, não dependendo comercialmente de um só país comprador ou um só país provedor.



Povo venezuelano derrota a oligarquia e o imperialismo

A vitória de Chaves e seus significados


Sítios de notícias favoráveis ao sistema capitalista neoliberal reconhecem a vitória de Chavez na eleição venezuelana de outubro de 2012

1) Chavez é eleito para o quarto mandato seguido na Venezuela

2) EUA elogiam alta participação de venezuelanos em eleição

3) OEA atesta bom andamento das eleições na Venezuela

4) Chávez vence eleição e governará Venezuela até 2019

5) Reeleito, desafio de Chávez é se adaptar ao Mercosul


quinta-feira, 25 de outubro de 2012

O papel das OS (organizações sociais) no sistema neoliberal


Na campanha eleitoral de 2012 para a eleição de prefeito e vereador da cidade de São Paulo, o candidato a prefeito do partido que se diz “social-democrata” manifestou bastante temor de que houvesse alguma alteração no modelo de gestão da assistência médica na referida cidade. Ele e a elite econômica que o apoia temem que haja alterações no sistema de parceria do governo municipal com as chamadas Organizações Sociais na assistência médica, ambulatorial e hospitalar do município, calcado em contratos de gestão firmados entre a prefeitura e as OSs (sigla comumente usada para Organizações Sociais) .

O provável início da implantação dos contratos de gestão entre um governo e as entidades ditas sem fins lucrativos deu-se no primeiro governo de Fernando Henrique Cardoso, lá pelos idos de 1998, em algum Estado ou município governado pelo PSDB ou partido coligado, quando as ideias neoliberais estavam muito mais fortes no Brasil (hoje, elas continuam fortes, mas muito mais pela força das repressões aos movimentos que as condenam do que pelo número dos que de fato creem nelas) tendo à frente do Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado o hoje crítico do sistema neoliberal Luiz Carlos Bresser Pereira, e como secretária-executiva Cláudia Costin [1] .   

Em plena sintonia com a ideologia da transformação de grande parte dos seres humanos em lixo orgânico, putrefato e inútil, o grande objetivo de tal estratégia era (e continua sendo) precarizar, subumanizar e tornar muito mais fácil a demissão de funcionários públicos considerados sem importância para o Estado, ou seja, aqueles não vinculados a carreiras ditas típicas de Estado, a fim de diminuir a instituição no que se refere aos gastos com pessoal, mas fortalecê-la nos gastos com as diversas formas de subsídio, proteção e ampliação das atividades econômicas da elite econômica nacional e transnacional[2] .

Diferentemente dos liberais no campo econômico de diversas vertentes e dos anarcocapitalistas, os tecnocratas do PSDB e associados formularam uma estratégia um pouco diferente para tornar o Estado mínimo em setores que muito provavelmente causariam indignação na grande maioria dos usuários pobres se fossem simplesmente privatizados, optando então pelo firmamento de contratos de gestão entre o governo e as OS nas áreas de assistência média, ambulatorial e hospitalar e assistência social, entre outras. Com as OS, dar-se-ia e da-se a impressão de que o governo continua atuando no setor terceirizado para uma entidade “sem fins lucrativos”, mas no mundo real os grandes beneficiados são a elite econômica e os políticos que a representam.

Não há melhora significativa com a transferência de atividades consideradas “não típicas de Estado” para as OS, pois o montante de recursos destinados a essas atividades, os salários de muitos funcionários, a compra e manutenção de materiais e equipamentos essenciais permanecem aquém do necessário, além da instauração da mesma rotatividade de funcionários existente no setor privado e do sistema de compras da OS que não se submete ao mesmo controle existente nas licitações de órgãos públicos e estatais.

Em não havendo a mesma rigidez e controle de tais entidades públicas, não estatais e de direito privado quanto a suas compras de produtos, materiais e equipamentos, e na contratação de serviços, abre-se (talvez até se escancare) uma janela para que pessoas que façam parte da direção dessa entidade, políticos e empresários se locupletem, criando um círculo vicioso de corrupção e tentativa de perpetuação no poder das mesmas forças políticas em conluio com empresários, grupos econômicos e dirigentes dessas entidades.

A retórica da eficiência no uso dos recursos e na prestação de serviços ditos “não típicos de Estado” extinguindo ou substituindo pouco a pouco entidades públicas e estatais por entidades públicas não-estatais de direito privado “sem fins lucrativos” objetiva, em linhas simples, o que foi exposto nos parágrafos anteriores, além de contribuir significativamente para que a elite econômica nacional e transnacional apropire-se ou reaproprie-se de grande parte da renda e da riqueza distribuída para setores da classe média baixa e dos mais pobres que constituem os servidores públicos de entidades públicas e estatais agora submetidos à condição de servidores demissíveis sem justa causa, e a própria população de baixa renda que se vê obrigada a recorrer aos sistemas públicos de assistência médica, ambulatorial, hospitalar, social e outras sem melhorias significativas quando prestadas pelas tais Organizações Sociais (OS).



 
[1] Leia o texto logo abaixo, intitulado "Organizações Sociais - Ministério da Administração Federal e Reforma do Estado - 1998", em formato de pdf, publicado pelo referido ministério e no qual havia a firme determinação de transferir para as chamadas Organizações Sociais (OS) grande parte (ou todos os serviços) dos serviços tidos como atividades não essenciais do Estado.



[2] Aqui se encaixam desde as diversas formas de renúncia na cobrança de tributos, ou de redução de tributos, por parte do Estado, de certos setores econômicos (das áreas industrial, comercial, financeira, de serviços e outras) que, segundo os governos adeptos de tal ideologia, contribuam para o aumento dos investimentos e geram empregos diretos e indiretos - pouco importando se se trata de empregos precários ou até de condição subumana -, até mais investimentos do Estado nos setores de infraestrutura (rodovias, ferrovias, portos, aeroportos, hidrelétricas, termoelétricas, e outros) ou concessão de tais setores por longos anos à iniciativa privada mediante contrato favorável a esta última e, por vezes, empréstimos subsiados que lhe sejam feitos por algum banco de fomento estatal (em casos recentes do Brasil, o BNDES).

 

domingo, 14 de outubro de 2012

Desastre ambiental, miséria e guerra sem fim

Os aumentos nos custos para a produção de bens e serviços em razão da destruição do ecossistema serão compensados com uma maior precarização, desumanização e exploração do trabalho, a ser feita em qualquer parte do mundo onde vigore ditaduras, regimes autoritários e falsas democracias.
 
Haverá a privatização e a concessão por longos anos de bens e serviços essenciais à vida e à dignidade do ser humano, tornados escassos graças à forma e à intensidade como foram explorados pelo sistema, forçando muitos miseráveis, pobres e até pessoas que um dia pertenceram a alguma classe média a recorrer à água contaminada e muita vez fétida e vinda de esgotos para saciar sua sede e usá-la para a higienização de locais e ambientes, a lampiões e a gravetos ou qualquer outro material combustível para gerar fogo necessário ao cozimento ou fritura de "alimentos", sabe-se lá quais, e ao aquecimento da água para um banho de balde ou caneca.
 
Ao Estado, para o gozo de adeptos do capitalismo neoliberal e do anarcocapitalismo, só restarão as funções de criminalização, encarceramento (oxalá não recorram à tortura e ao extermínio) e repressão dos pobres, miseráveis e dos que um dia pertenceram a alguma classe média, entre outras poucas funções destinadas fundamentalmente a proteger a propriedade, o cumprimento dos contratos, algumas (frise-se) vidas e, talvez - neste ponto os anarcocapitalistas dizem discordar dos capitalistas neoliberais - grandes subsídios a empresas e sistemas financeiros, e obviamente à industria da guerra.

Leiam, por favor, na íntegra com atenção e reflexão o muito bom texto de Noam Chomsky intitulado “Os temas que Romney e Obama evitam: desastre ambiental e guerra nuclear”, publicado no sítio La Jornada e transcrito para o da Carta Maior, e que serviu de base para o pequeno texto supra. Quem preferir localizar o link para matéria usando algum sistema de busca, faça-o com usando as palavras-chave contidas no link abaixo e seguidas de Noam Chomsky e La Jornada.

domingo, 7 de outubro de 2012

O ódio das elites e dos reacionários a Hugo Chavez

Há muito tempo ouve-se e se lê que Chavez é um ditador. Dizem que ele sempre consegue reeleger-se, e veem nisso um sinal de fraude. Citam-no como um populista, no sentido depreciativo e sem sequer ater-se ao significado completo e correto desse termo. Reprovam veementemente a política econômica implementada por ele, classificada como “estatista”, “populista” e “intervencionista”, entre outros adjetivos, e acusam-no de controlar com mão de ferro os veículos de comunicação venezuelanos.

Sempre que julgam necessário, veículos de comunicação tais como aquela revista cujo nome consta de um dos modos e um dos tempos em que o verbo ver é conjugado direcionam a sua carga de ódio a Chavez e a seu governo acusando-os de alguma coisa, ou de uma série de adjetivos depreciativos, injuriadores, caluniadores e difamadores, esforçando-se obstinadamente para arraigar em seus telespectadores, ouvintes e leitores o mesmo ódio e os mesmos valores e anseios que possuem, próprios de elites econômicas nacionais e transnacionais, muitos dos quais disfarçados de apego à democracia e a uma liberdade não devidamente definida e exposta.

Recentemente até mesmo uma emissora de televisão pertencente a uma fundação e que se pretende "pública" qualificou o sistema previdenciário venezuelano como o que menos abrangente em termos de proteção social, ao mesmo tempo em que alertava para o que colocaram como um problema sem solução, qual seja, o da futura inviabilidade do sistema previdenciário público e cujo modelo é de partição em razão da “aposentadoria precoce” e do escasseamento de contribuintes por causa  da dimunuição da taxa de natalidade, e igualmente da chamada população economicamente ativa.

Descaradamente, quase que sequencialmente a referida emissora tentou explicar e racionalizar os motivos pelos quais a previdência pública e em sistema de repartição é inviável, mal explanando sobre como são os sistemas de previdência de outros países tais como Estados Unidos, Alemanha e França, e sugerindo claramente que os contribuintes mais jovens - e, por extensão, aqueles que não são tão jovens e para os quais faltam muitos anos para aposentar-se - que recorram à previdência privada regida pelo sistema de capitalização.

As razões expostas são apenas algumas que inspiram o ódio das elites econômicas nacionais e transnacionais e parte da elite intelectual a Chavez. Estas aspiram o retorno ou (no caso dos países em que esta ideologia já foi aplicada em alguma medida) o aprofundamento da ideologia neoliberal na própria Venezuela e nos demais países latino-americanos que de algum modo na a implementaram na íntegra, que no mundo real se transforma em um sistema de reformas econôminas (ditas também estruturais) sem fim para beneficiar as elites citadas.
 

Leiam, por favor, na íntegra com atenção e reflexão o muito bom texto de Ignácio Ramonet intitulado “O porquê do ódio a Chavez”, publicado no sítio Outras Palavras, e que serviu de base para o pequeno texto supra. Quem preferir localizar o link para matéria usando algum sistema de busca, faça-o com usando as palavras-chave contidas no link abaixo e seguidas de Ignácio Ramonet.


O porquê do ódio a Chavez - escrito por Ignácio Ramonet

sexta-feira, 21 de setembro de 2012

Alexis Tsipras e a destruição da Grécia

É muito decepcionante e triste que a maioria das pessoas pobres e de classe média gregas tenha que experimentar o sofrimento que estão experimentando, guiada por governos favoráveis à elite econômica nacional e transnacional e à ideologia da transformação do ser humano em lixo ambulante não-reciclável para somente a partir do aumento da miséria e da pobreza, impostos pela União Europeia, Banco Central Europeu e FMI, ir às ruas manifestar sua revolta e indignação, e passar a votar em um partido verdadeiramente (pelo menos até o momento) socialista e de esquerda, tal como parece ser o caso do Syriza.
 
Mais decepcionante ainda é imaginar que entre as duas classes mencionadas haja pessoas que escolheram os representantes do partido Nova Democracia mesmo tendo conhecimento de que estes pretendem seguir a cartilha exigida pelas três instituições mencionadas e por sua própria elite econômica.
 
Convém esclarecer que o adjetivo “socialista” mencionado não se relaciona com o que vem sendo usado pelo partido que usa esse adjetivo na própria Grécia mas não passa de um partido traidor do que se conhece por socialismo. Aliás, tal como já foi escrito em outro artigo neste blogue, o próprio adjetivo socialdemocrata é inaceitável para partidos que o adotam e seu nome e tenham se rendido e às teses próprias do capitalismo neoliberal em seu próprio país e em outros países do próprio continente e do mundo.
 
Também é útil alertar que muitos ventríloquos ou sapientes arrogantes e calculistas reacionários tenderão a justificar a tragédia que se está impondo a maioria dos gregos por meio da tese da chamada “destruição criativa”, de Schumpeter, disseminando a expectativa de que tais sacrifícios são essenciais para a construção de um futuro melhor para as próximas gerações gregas. Ingênuos e resignados, mas também sapientes reacionários da pior espécie tenderão a crer em tal tese sem ter consciência, no caso dos primeiros, ou com plena consciência, no caso dos segundos, de que tal caminho levará a maior parte dos gregos à miséria e a pobreza, e apenas uma elite econômica nacional e transnacional continuará intocável e cada vez mais rica.

Abaixo, entre aspas e em itálico, alguns trechos da entrevista de Alexis Tsipras.

A Grécia se converteu em um experimento ultra-liberal, em um porquinho da índia. Aqui se colocou à prova a política do choque para logo em seguida ampliá-la para o resto da Europa. Mas temos a reação da sociedade. As pessoas já não têm a vida cotidiana que tinham antes e são essas mesmas pessoas que reagiram para que as coisas mudassem. Com sua mobilização a sociedade ameaçou as elites de nosso país. Isso significa que estamos mudando a correlação de forças mediante o comportamento crítico das massas”.

A política de choque liberal implementada na Argentina nos anos 90 sob as ordens do FMI também foi aplicada aqui. Estamos neste processo, lento mas destrutivo, um processo que se comporta de forma muito violenta contra os povos e os marginalizados: planos de ajuste, ataque contra os salários, desemprego”.

... há algo que deve ser dito claramente: o neonazismo e a Aurora Dourada não são uma força anti-sistema. Não, trata-se de uma força do sistema dentro do sistema. É o braço mais forte do sistema que será utilizado se ele se sentir em perigo. O único perigo para nosso país são as políticas neoliberais, a troika (FMI, Banco Central Europeu e União Europeia) e o movimento neonazista, que é um aliado deles para seguir neste caminho”.

Na Grécia, o partido que representa a social democracia, o PASOK, não se diferencia em nada da direita. É uma cópia. Por isso nossa esquerda pode se converter em um polo de alianças com autêntica base social e popular”.

 
Leiam, por favor, na íntegra e com atenção e reflexão o muito bom texto de Eduardo Febbro, bem como a entrevista de Alexis Tsipras, líder do partido de esquerda grego Syriza, intitulado “Elites europeias estão causando retrocesso de décadas”. Quem preferir encontrar o texto usando algum sistema de busca, faça-o com usando as palavras-chave contidas no link abaixo seguidas de Eduardo Febbro e Carta Maior.

 
Elites europeias estão causando retrocesso de décadas
 

domingo, 9 de setembro de 2012

Auschwitz sem cercas

Estão livres, mas, ao mesmo tempo, estão aprisionados.
 
Estão livres, mas não para se alimentarem digna e adequamente quando estiverem com fome.
 
Estão livres, mas correm risco eminente de constarem entre as vítimas de todo tipo de violência, e de serem assassinados, pois não possuem a moeda dos incluídos para comprar, financiar ou alugar uma habitação digna na qual se sintam (e estejam de fato) protegidos.
 
Estão livres, mas não são nem serão atendidos por médicos muito bons em igualmente muito bons hospitais, pois estes são privilégios dos incluídos no sistema que exclui aos montes, e no mundo real nega o direito à vida à maioria dos que não conseguem pagar por uma assistência médica digna igual à oferecida aos mais ricos.
 
Estão livres, mas somente terão água tratada para beber e hieginizarem a si mesmos e suas residências se puderem pagar por esse serviço, e também pelo de coleta de esgotos, ambos privatizados sob o sistema neoliberal (capitalista selvagem). Se não puderem, estarão aprisionados em sua própria condição sub-humana, e serão como moradores de rua entre algumas paredes e uma cobertura.
 
Estão livres, mas não terão educação na quantidade e qualidade necessárias para uma melhor compreensão do mundo, nem para que esta os transforme em "capital humano", pois esta condição continuará sendo privilégio de poucos sob o sistema cujas características mais marcantes são a marginalização e a inutilização da maioria.
 
Estão livres, mas não para viver, pois para viver é necessário pagar, e para pagar é necessário ter renda, e para ter renda é necessário estar incluído, e para estar incluído é necessário ser parte da elite econômica, e para fazer parte desta é necessário estar e/ou ter potencialidade para estar empreendedor, cliente de alto poder aquisitivo, funcionário altamente especializado, artista ou atleta ímpar, ou ainda, capital humano dotado de qualidades ímpares para o sistema do capital.
 
Vêm a minha imaginação os rostos arrasados e os corpos esquálidos de judeus, ciganos, comunistas, socialistas, deficientes mentais, homossexuais e tantos outros, encarcerados e assassinados nos campos de extermínio nazistas, e brotam simultaneamente os rostos dos miseráveis das mais diversas cidades brasileiras (entre os quais constam os moradores e moradoras de rua), tratados com indiferença e desprezo pela maioria das pessoas que espelham o sistema neoliberal.

Esses miseráveis estão livres, mas, ao mesmo tempo, estão aprisionados.
 
Pois não há liberdade em um sistema onde os seres humanos não são livres para suprir-se do necessário para sua própria subsistência e dignidade.
 
 

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Haverá alguma saída?

Para o grande pensador Immanuel Wallerstein, talvez não haja saída alguma para a crise do sistema capitalista que se manifestou nos anos de 2007 e 2008 no sistema financeiro dos Estados Unidos da América, e se propagou para a Europa e outras regiões.Wallrestein cita especialistas até mesmo favoráveis ao sistema e outros autores não contemporâneos (Kondratieff, por exemplo)[1] , para embasar sua tese firmada nas contradições dos primeiros, e possível fragilidade das teses dos segundos.
 
Nos parágrafos que seguem transcrevi alguns trechos (em letra no formato itálico) de seu muito bom artigo publicado originalmente no muito bom sítio sinpermiso.info e transcrito para o igualmente muito bom sítio Carta Maior.
 
“De vez em quando, emerge um pouco de honestidade. Em 7/8, Andrew Ross Sorkin publicou um artigo no New York Times em que oferecia “uma explicação mais direta sobre por que os investidores deixaram as bolsas de valores: elas tornaram-se uma aposta perdedora. Há toda uma geração de investidores que nunca ganhou muito”. Três dias depois, James Mackintosh escreveu algo semelhante no Financial Times: “os economistas estão começando a admitir que a Grande Recessão atingiu permanentemente o crescimento… Os investidores estão mais pessimistas”. E, ainda mais importante, o New York Times publicou, em 14/8, reportagem sobre o custo crescente de negociações mais rápidas. Em meio ao artigo, podia-se ler: “[Os investidores] estão desconcertados por um mercado que não ofereceu quase retorno algum na última década, devido às bolhas especulativas e à instabilidade da economia global”.
 
“Lembremos que a taxa de retorno, no século passado, foi o dobro do aumento do PIB. Isso poderia se repetir? É difícil de imaginar – tanto para mim, quanto para a maior parte dos investidores potenciais no mercado. Isso gera as restrições com que nos deparamos todos os dias nos Estados Unidos, Europa e, breve, nas “economias emergentes”. O endividamento é alto demais para se sustentar”.
 
“Por isso, temos, por um lado, um apelo político poderoso à “austeridade”. Ela significa, na prática, eliminar direitos (como aposentadorias, qualidade da assistência médica, gastos com educação) e reduzir o papel dos governos na garantia de tais direitos. Porém, se a maioria das pessoas tiver menos, elas gastarão obviamente menos – e quem vende encontrará menos compradores – ou seja, menor demanda efetiva. Portanto, a produção será ainda menos lucrativa (reduzindo os ganhos com ações); e os governos, ainda mais pobres”.
 
“É um círculo vicioso e não há saída fácil aceitável. Pode significar que não há saída alguma. É algo que alguns de nós chamamos crise estrutural da economia-mundo capitalista. Produz flutuações caóticas (e selvagens) quando o sistema chega a encruzilhadas, e surgem lutas duríssimas sobre que sistema deveria substituir aquele sob o qual vivemos”.
 
 
Aos poucos que visitam e leem os posts deste blogue peço que acessem o link situado um pouco abaixo, ou, se preferirem, digitem em algum sistema de busca as palavras-chave "E se não houver saída alguma", seguidas de "Immanuel Wallerstein", e acessem o texto por esse meio.

E se não houver saída alguma?
 

Os links abaixo, acompanhados de números, remetem a sítios e textos para que o leitor compreenda melhor algumas citações de conceitos, nomes, fatos históricos e outros utilizadas no texto em parte transcrito, ou mesmo em alguns de meus comentários.


 

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Antonio Cândido e o socialismo

Apesar de divergências pontuais com o gigante intelectual chamado Antonio Cândido, recomendo a todos os poucos leitores que passam por este blogue que leiam, na íntegra e com muita atenção, a muito boa entrevista que esse grande crítico literário concedeu a Joana Tavares, do muito bom sítio do Brasil de Fato.

Logo abaixo (em letras no estilo itálico) destaco algumas partes de sua entrevista que provocam a irritação ou a concordância resignada de quem as lê, de acordo com o pensamento e a ideologia do leitor, podendo provocar, inclusive, a satisfação sarcástica de defensores do sistema capitalista que não compreendam a profundidade dos dizeres do crítico literário.

"O senhor é socialista?

Ah, claro, inteiramente. Aliás, eu acho que o socialismo é uma doutrina totalmente triunfante no mundo. E não é paradoxo. O que é o socialismo? É o irmão-gêmeo do capitalismo, nasceram juntos, na revolução industrial. É indescritível o que era a indústria no começo. Os operários ingleses dormiam debaixo da máquina e eram acordados de madrugada com o chicote do contramestre. Isso era a indústria. Aí começou a aparecer o socialismo. Chamo de socialismo todas as tendências que dizem que o homem tem que caminhar para a igualdade e ele é o criador de riquezas e não pode ser explorado. Comunismo, socialismo democrático, anarquismo, solidarismo, cristianismo social, cooperativismo... tudo isso. Esse pessoal começou a lutar, para o operário não ser mais chicoteado, depois para não trabalhar mais que doze horas, depois para não trabalhar mais que dez, oito; para a mulher grávida não ter que trabalhar, para os trabalhadores terem férias, para ter escola para as crianças. Coisas que hoje são banais."

Meu pensamento sobre a passagem supra é a de que o socialismo verdadeiro não é uma doutrina triunfante no mundo atual, pois se assim o fosse, não estaríamos mergulhados na barbárie, e as conquistas referidas estão muito aquém do necessário para que os seres humanos vivam dignamente. Aliás, ainda no mundo atual, há um risco eminente de que retornemos à época do capitalismo vigente em grande parte dos países do mundo em que tais conquistas elementares e aquém do necessário sequer eram imaginadas.

"Eu releio. História, um pouco de política... mesmo meus livros de socialismo eu dei tudo. Agora estou querendo reler alguns mestres socialistas, sobretudo Eduard Bernstein, aquele que os comunistas tinham ódio. Ele era marxista, mas dizia que o marxismo tem um defeito, achar que a gente pode chegar no paraíso terrestre. Então ele partiu da ideia do filósofo Immanuel Kant da finalidade sem fim. O socialismo é uma finalidade sem fim. Você tem que agir todos os dias como se fosse possível chegar no paraíso, mas você fizer essa luta, você cai no inferno."

Não conheço o pensamento de Eduard Bernstein, por isso não vou posicionar-me, mas talvez neste trecho, por tratar-se de questão filosófica, eu até concorde com o eminente crítico literário.

Para este espaço só posso destacar um e outro trecho, pois os direitos autorais pertencem ao sítio Brasil de Fato para o qual coloquei um link a fim de que a entrevista seja lida na íntegra.

Provavelmente Antonio Cândido não se inclua entre os que são chamados de socialistas científicos, fortemente alinhados ao pensamento marxista-leninista. Foi essa a impressão que tive ao ler a entrevista pela primeira vez. Apesar disso,  as fortes reprovações que este grande intelectual da crítica literária dirige ao sistema capitalista precisam ser lidas, relidas e apreendidas.

Quanto a seu pensamento com relação ao socialismo que vigeu na Rússia e na União das Repúblicas Socialistas Soviéticas, prefiro continuar lendo e pesquisando muito sobre o tema, apesar de minhas graves limitações de tempo e, de certa forma, de recursos para tal.

Aos poucos que passam por meu blogue e oxalá leiam algumas linhas dos textos que aqui coloco, peço que acessem o link logo abaixo, ou, se preferirem, digitem em algum sistema de busca as seguintes palavras-chave: "O socialismo é uma doutrina triunfante" e "Brasil de fato".
 
 
 
 

sábado, 23 de junho de 2012

Adjetivos adulterados

É revoltante que um partido grego faça uso do adjetivo "socialista" e outros associados e apoie as medidas econômicas antissociais recomendadas pelo FMI, Comissão Europeia e Banco Central europeu para a Grécia. Até mesmo os adjetivos "social-democrata", existente em alguns países europeus (Portugal, por exemplo), e "trabalhista" (Inglaterra, por exemplo) são inaceitáveis para partidos que concordem com tais medidas, uma vez que estes estiveram associados à construção do chamado Estado de bem-estar social que se propagou por diversos países europeus após a Segunda Guerra Mundial, e que desde o governo neoliberal de Margareth Thatcher, a partir de 1979, na Inglaterra, vem sendo destruído pouco a pouco.

Na mesma linha de raciocínio, o adjetivo "radical", se colocado por defensores de tais medidas econômicas, os quais fazem parte da elite econômica "nacional" e transnacional, não tem sentido ser aplicado à coalizão de esquerda Syriza, pois radicais são as medidas econômicas impostas pela Troika (Comissão Europeia, FMI e Banco Central europeu), e não a oposição a essas medidas.

Não nos esqueçamos de que no sistema eleitoral grego ganha um número significativo de cadeiras (cinquenta) o partido mais votado em termos percentuais, o que distorce e adultera a democracia na terra em que se acredita que ela foi criada há milhares de anos.

Fiz uma leitura do artigo muito bom intitulado "Nova correlação de forças na Grécia é inédita na Europa", escrito por Eduardo Febbro, e recomendo a todos que tenham tempo e disposição para lê-lo que o façam com atenção e reflexão.



Nova correlação de forças na Grécia é inédita na Europa

Candidato de direita vence eleições na Grécia e tranquiliza a Europa


sábado, 26 de maio de 2012

A Argentina antes de Néstor e Cristina

"O Brasil vai virar a Argentina", diziam alguns dos que queriam conscientemente sabotar todo e qualquer governo que ousasse alterar a política econômica implantada pelos tecnocratas de centro-direita e de direita do PSDB, sob o comando de Fernando Henrique Cardoso, espalhando com isso o medo em muitos eleitores brasileiros, às vésperas das eleições de 2002, de uma política econômica alternativa à neoliberal que vigia desde o início dos anos 1990.

Em 2001, sob o governo de Fernando De La Rua, a grande maioria dos argentinos sofria com o desemprego, o subemprego, a pobreza, a miséria e a desassistência por parte do Estado resultantes de uma política econômica neoliberal iniciada em 1989, sob o governo de Carlos Menem, que no início e até certa altura desse governo até foi capaz de criar expectativas positivas em muitos argentinos, iludidos com a estabilização dos preços após a implantação do currency board [1],em 1991, e da expectativa de melhora de suas vidas.

Recém saídos de uma repressora, homicida e genocida ditadura militar que durara de 1976 até 1983, e de um processo hiperinflacionário sob o governo de Raul Alfonsin (1983 até 1989), a maioria dos argentinos ansiava por melhores condições de existência, o que habilmente foi explorado por Carlos Menem, seus tecnocratas e seus seguidores na elite econômica para implantar as reformas neoliberais como condição sine qua non para que os preços se estabilizassem.

O que conhecemos por neoliberalismo foi sendo construído ainda no final da Segunda Guerra por pensadores como Friedrich August von Hayek e Milton Friedman, em oposição às políticas econômicas keynesianas e favoráveis ao Estado de bem-estar social predominantes em vários e importantes países europeus daquela época, mas que só obteve força como alternativa e como sistema econômico dominante a partir da segunda metade dos anos 1970, com a chegada de Margareth Thatcher ao poder na Inglaterra, em 1979 [2] .

Em 1989, na cidade de Washington, houve uma conferência entre tecnocratas do governo norte-americano, de países ditos subdesenvolvidos, do Institute for International Economics e de instituições multilaterais tais como o FMI e o Banco Mundial na qual foram elencadas uma série de medidas econômicas destinadas a, entre outros objetivos declarados, combater a inflação, “modernizar” as economias e estimular o crescimento econômico dos países subdesenvolvidos, mas que, entre os não claramente expostos e reconhecidos, constavam os muitos ganhos a serem obtidos pelas empresas transnacionais, bancos e investidores nacionais e estrangeiros com a adoção das medidas econômicas preconizadas, ao final dessa conferência, pelo que passou a ser chamado de “Consenso de Washington" [3] .

Foi sob este contexto favorável à implementação das recomendações do Consenso de Washington que Carlos Menem e seu poderoso ministro da Economia, Domingo Cavallo, diminuíram fortemente as tarifas alfandegárias e outros impedimentos às importações de produtos, desregulamentaram e reduziram fortemente os impostos sobre os investimentos especulativos no mercado financeiro argentino e aqueles feitos no setor produtivo (estes, sob o domínio neoliberal, sempre foram minoritários em muitos países subdesenvolvidos e “emergentes”) com algum auxílio ou subsídio do Estado [4] , e privatizaram empresas de capital majoritariamente estatal de serviços públicos essenciais ou de produção estratégicos.

Ainda sob este contexto, reduziram significativamente os direitos trabalhistas dos que dependiam do trabalho para subsistir facilitando as demissões, precarizando as condições de trabalho e disseminando os processos de terceirização, além de forçarem a privatização do sistema previdenciário e extinguirem muitos dos sistemas de assistência social outrora financiados pelo Estado, entre outras providências inspiradas no mencionado Consenso e no ideário neoliberal.

A despeito de índices de desemprego e subemprego que começavam a se mostrar altos, principalmente para os mais pobres e com menor qualificação profissional, bem como dos sinais de aumento da miséria e da pobreza, o currency board foi eficiente para iludir parte significativa dos argentinos, como já foi dito, em razão da estabilidade dos preços de diversos produtos e serviços, e do aumento do poder de compra da moeda utilizada por eles, entretanto essa ilusão para grande parte desses ludibriados começou a se transformar em pesadelo a partir das crises do sistema financeiro e das economias de países asiáticos (Coreia do Sul, Tailândia, Indonésia e outros da região), em 1997, da Rússia, em 1998, e do Brasil, em 1999, fruto do refluxo ou direcionamento dos investimentos para os títulos e outros investimentos mais seguros dos países ditos desenvolvidos, além do déficit em suas balanças comerciais (exportação de produtos menor do que a importação dos mesmos) e de transações correntes (índice negativo de diversos tipos de transação com o exterior) desses países causadas principalmente pela apreciação de suas moedas com relação ao dólar.

Assim, atrair ou manter os investimentos que davam sustentação ao currency board e a estabilidade dos preços passou a exigir a implementação e o aprofundamento de muitas das medidas econômicas recomendadas pelo Consenso de Washington e pelas instituições multilaterais tais como o FMI (Fundo Monetário Internacional), o Banco Mundial e a Organização Mundial do Comércio (antigo GATT), as quais foram citadas em parágrafo anterior, e que resultavam na implantação de um Estado mínimo para as áreas de proteção e desenvolvimento social (previdência, assistência social, educação elementar, intermediária e universitária, assistência médica e outras), e igualmente mínimo nos setores de regulamentação, fiscalização (dos mais diversos tipos) e de tributação, além da exigência de privatizações de atividades e setores essenciais à vida e à dignidade humanas (o de fornecimento de água, coleta e tratamento de esgotos, por exemplo) e estratégicas (os de recursos minerais e energéticos, entre outros), e da consequente demissão de funcionários públicos ou de empresas de economia mista que atuavam em todos esses setores.

Grande parte dos argentinos provavelmente queria a continuidade da conversibilidade de seus pesos em dólar, e obviamente da estabilidade (e, antes dela, a diminuição de alguns) dos preços de produtos e serviços, mas não queria a imposição dos sacrifícios que lhes estavam sendo impostos pelo governo Menem até então para atingir tal objetivo; de igual forma,  ansiavam pelo crescimento econômico do país que poderia - segundo suas expectativas - recriar os postos de trabalho fechados e criar novos empregos . E foi tendo em vista essas expectativas que, nas eleições de 1999, elegeram Fernando de la Rua, líder de uma coalizão de partidos opositores do governo Menem, a Frepaso, para a Presidência da República.

Fernando De la Rua assumiu a Presidência da República no ano seguinte, 2000, e prosseguiu com as reformas estruturais do governo anterior tendo à frente da condução da Economia inicialmente José Luís Machinea e, posteriormente, com a renúncia deste, Ricardo Lopez Murphy, que proprôs um ajuste fiscal [5] ainda mais draconiano do que o proposto por seu antecessor, sob o pretexto de que isso traria mais investimentos ao país fazendo-o romper o ciclo recessivo.

De la Rua desejava sair do ciclo recessivo em que a Argentina estava mergulhada havia mais de dois anos e foi uma das principais razões de ele e o agrupamento de partidos que o apoiava terem sido alçados ao poder. Para atingir tal intento, manteve intactos os principais alicerces da ideologia neoliberal construídos sob o governo de Carlos Menem e Domingo Cavallo, a fim de atrair mais investimentos em dólar para dar sustenção ao currency board e, ao mesmo tempo, promover o crescimento da economia argentina.

Em março de 2001 ocorre a renúncia de Ricardo Lopez Murphy, que tentara de diversas formas impor uma reforma fiscal de cunho antissocial e própria de um Estado mínimo para as áreas essenciais à proteção à vida e dignidade dos marginalizados pelo sistema neoliberal, e assume, em seu lugar, o grande arquiteto e gerente do currency board, Domingo Cavallo, o qual perseguiria os mesmos objetivos de Lopez Murphy, porém com uma margem de manobra maior por ser uma autoridade venerada tanto pelos membros da elite econômica nacional e transnacional como também por parte significativa do povo, que o via como a solução para retirar a Argentina da recessão em que mergulhara, e para a manutenção do sistema de convivência das duas moedas, o peso e o dólar.

No entanto, a insistência do novo governo no convívio de duas moedas e na livre conversibilidade entre o peso e o dólar, mesmo sem ter o controle desta última moeda, e sem enxergar ou sem querer enxergar o que isso significaria em termos de perdas de emprego e diminuição do Estado nas áreas em que ele mais necessitava continuar atuando e ampliar sua atuação, insistência essa para atender aos anseios de muitos argentinos que queriam a livre conversibilidade de seus pesos em dólar, ou a própria dolarização da economia, sem atentar ou sem querer atentar para os efeitos colaterais dessas medidas, e no atendimento às elites econômicas nacional e transnacional que exigiam mais e mais medidas de austeridade, resultou no fracasso da política econômica aplicada à Argentina, conhecida por sua inspiração no Consenso de Washington e no pensamento de Milton Friedman.


Por fim, uma série de grandes protestos por todo o país levaram Fernando de la Rua à renúncia de seu cargo em ....



Este texto ainda está "em construção", devido a minha falta de tempo disponível (e em razão do cansaço durante a semana) para dar-lhe embasamento em fontes conceituadas e fidedignas, pela dificuldade da construção do texto, em si, e também em razão de sua complexidade e minha grande dificuldade em concluí-lo.


O significado dos números em partes dos texto

[1] vide o muito bom texto de Paulo Nogueira Batista Júnior intitulado “Argentina: uma crise paradigmática”.

[2] vide excelente texto e estudo de Perry Anderson intitulado “O Balanço do Neoliberalismo”, provavelmente ainda disponível na íntegra em algum sítio na internet.

[3] vide o muito bom texto de Paulo Nogueira Batista Júnior intitulado “O Consenso de Washington”, e  o igualmente muito bom texto do sítio conceitos e temas (item  5).

[4] Entre tais auxílios e subsídios podemos mencionar os próprios preços das ações das empresas estatais que foram privatizadas, quando leiloadas, ou nas injeções de dinheiro nessas empresas e nos aumentos de seus preços de produtos e serviços para que se tornassem atraentes aos compradores privados, ou mesmo através de empréstimos do governo, a juros subsidiados, aos novos proprietários de tais empresas.

[5] Ajuste fiscal é um termo técnico usado em Economia e, a grosso modo, significa .... A Quem quiser uma definição mais completa para o termo sugiro que consulte um muito bom Dicionário de Economia ou Livro-Texto de Economia que o defina considerando as diversas correntes e ideologias existentes no campo da Economia.



Links para textos muito bons que versam sobre o tema e outros relacionados

1) Argentina: uma crise paradigmática - Paulo Nogueira Batista Júnior
http://www.scielo.br/scielo.php?pid=S0103-40142002000100006&script=sci_arttext

2) Nós e a Argentina - Paulo Kliass
http://www.cartamaior.com.br/templates/colunaMostrar.cfm?coluna_id=5561

3) O colonialismo liberal europeu mostra a sua face - Eduardo Febbro - De Paris
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=19996

4) O Consenso de Washington – Paulo Nogueira Batista Jr.
http://www.fau.usp.br/cursos/graduacao/arq_urbanismo/disciplinas/aup0270/4dossie/nogueira94/nog94-cons-washn.pdf

5) O Consenso de Washington - sítio conceitos e temas
http://conceitosetemas.blogspot.com.br/2009/03/consenso-de-washington-bases-e.html

6) Nove anos depois, Argentina relembra pior crise de sua história - matéria publicada no sítio Opera Mundi em dezembro de 2010
http://www.cartacapital.com.br/internacional/nove-anos-depois-argentina-relembra-pior-crise-de-sua-historia

7) Por que Buenos Aires enlouquece a mídia
http://www.outraspalavras.net/2012/04/23/por-que-buenos-aires-enlouquece-a-midia

8) A privatização das telecomunicações na Argentina
http://www.uel.br/grupo-pesquisa/gepal/anais_ivsimp/gt3/3_JoaoDeAlmeida.pdf

9) “36 mil trabalhadores foram despedidos durante a privatização da YPF nos anos 90”
http://www.cartamaior.com.br/templates/materiaMostrar.cfm?materia_id=20027

10) Tragédia Alca-vallo - José Arbex Júnior
http://www.oocities.org/tampo_8/politica/arbex-alca-vallo.html

11) Entrevista de Carlos Menem à revista Veja, em novembro de 2000, quando nutria expectativa de retornar ao poder e decretar a dolarização total da economia argentina.
http://veja.abril.com.br/221100/entrevista.html


sábado, 7 de abril de 2012

Desindustrialização e mundialização do capital

Nos muito bons artigos de Paulo Kliass, Gilberto Maringoni e de Wagner Gomes,  intitulados, respectivamente, "Desoneração e Desindustrialização", "Enxugando gelo para não tocar no essencial", e "Pacote não barra desindustrialização" para os quais coloquei os links ao final de meu texto, tomamos consciência do risco real não apenas de desindustrialização que corremos, apesar das medidas tomadas pelo governo, mas também de aumento do chamado "deficit orçamentário" do regime geral de previdência social, e de maior precarização nas relações entre os que detêm o capital e os que dependem do trabalho para viver dignamente.

Os governos de Luís Inácio Lula da Silva e Dilma Roussef persistiram aplicando uma política econômica vinda da gestão anterior, de Fernando Henrique Cardoso, na qual a moeda nacional é valorizada perante o dólar e outras moedas ditas fortes através da atração desses recursos mediante uma taxa de juros altíssima, usada para remunerar títulos públicos, e de outras aplicações financeiras rentáveis e pouco tributadas, e também através de contratos de concessão generosos de serviços estratégicos e essenciais antes realizados por empresas majoritariamente de capital estatal e nacional, e de igual forma a possibilidade de recorrer a empréstimos, a juros subsidiados, de um dos principais bancos estatais e federais de fomento, o BNDES, para a realização dos investimentos necessários a melhoria e ampliação dos referidos serviços.

Todas essas medidas econômicas contribuíram não apenas para a valorização da moeda nacional perante as outras moedas mais fortes, mas também para o aumento dos lucros e dividendos de diversas corporações, bancos e fundos de investimentos transnacionais.

Do mesmo modo, essa política econômica contribuiu para o aumento dos lucros dos que exportam para o Brasil  produtos semi-manufaturados e manufaturados e que exploram seus trabalhadores ainda mais do que muitos países receptores de seus produtos, e lucram também com investimentos nos setores produtivos dos países receptores que em um primeiro momento são até bons para o país, dependendo da quantidade, qualidade e relativa estabilidade do emprego que oferecem aos trabalhadores brasileiros, e de igual modo devido às técnicas e tecnologias empregadas na produção de produtos e serviços que signifiquem maior produtividade e cuidado com o ecossistema, as quais poderão até ser copiadas pelas indústrias brasileiras.

No entanto, todo esse investimento cobrará obviamente seu retorno na forma de transferência de lucros e dividendos para seus investidores ou matrizes situados no exterior, podendo reduzir significativa e perigosamente as reservas em moeda estrangeira do país, e dar margem às manobras sabotadoras de "investidores" capazes de arruinar a vida econômica e a vida de milhões de pessoas em um país. Sabe-se, também, que muitas das empresas transnacionais que para cá trouxeram seus investimentos diretos utilizaram-se amplamente da terceirização (leia-se precarização) de diversos serviços e processos de produção no Brasil, aumentando ainda mais seus lucros, e pouca ou nenhuma tecnologia foi trazida por tais empresas e absorvida pela economia nacional.

O que compensou, até o momento, a saída de moeda estrangeira do país foi principalmente a exportação de minerais metálicos (ferro, alumínio, chumbo e outros), soja e farelo de soja, café em grãos, carne bovina, suína e de frango, petróleo bruto e outros produtos primários que geram poucos e localizados empregos, de baixo valor agregado, e que dificilmente contribuirão para um processo de crescimento econômico sustentável e com bons empregos em termos quantitativos e qualitativos para a maior parte dos que dependem do trabalho para subsistir dignamente.

Tendo em vista que a maior parte dos países do mundo está inserida de forma subordinada à mundialização (ou, se preferir, globalização) do sistema financeiro e do comércio exterior, e que estes estão firmemente protegidos por instituições tais quais o FMI, o Banco Mundial e a Organização Mundial de Comércio, entre outras instituições a serviço do capitalismo neoliberal e de corporações transnacionais muito poderosas, e de que esta mundialização não objetiva o crescimento econômico e desenvolvimento de todos de forma a beneficiar fundamentalmente os mais pobres e a classe média frágil, constitui-se um desafio monstruoso libertar-se desses sistemas sem correr o risco de se tornar um país asfixiado por boicotes econômicos e sabotagens feitas por elites econômicas "nacionais" e seus veículos de comunicação que culminam em golpe de Estado.

O país que ousa libertar-se desse sistema capitalista neoliberal, portanto, não corre o risco apenas não ter como suprir-se de matérias primas, energia, tecnologia e recursos financeiros vindos de outros países, tendo que fazer o possível para suprir-se de tais itens junto a alguns possíveis, poucos e igualmente frágeis países aliados, mas também o de estar preparado para uma série de ações de sabotagem vindos dos países que abrigam as matrizes das poderosas empresas, bancos e investidores transnacionais, e também de sua própria elite econômica antissocial.



Aos poucos que visitam este blogue e acessam os textos que recomendo coloco os links para os textos de Paulo Kliass, Gilberto Marangoni e Wagner Gomes na íntegra, ou, se preferirem, digitem em algum sistema de busca as palavras-chave dos próprios títulos dos artigos seguidos dos nomes de seus autores e acessem os textos através desse meio.

1) Desoneração e Desindustrialização - autor: Paulo Kliass

2) Enxugando gelo para não tocar no essencial - autor: Gilberto Maringoni

3) Pacote não barra desindustrialização - autor: Wagner Gomes




Textos de apoio para melhor compreender alguns vocábulos e termos utilizados

1) Os minerais são recursos da natureza (para saber mais sobre as "commodities")

2) O conceito de valor agregado - por Renata Megumi Kimura (leia a partir da pág. 11)



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