sexta-feira, 21 de dezembro de 2012

A força destruidora e autodestruidora

É possível que o sistema capitalista, especialmente o de vertente neoliberal, não tenha semeado o suficiente de desgraça, de sofrimento, de condução à morte por fome e subnutrição, de crimes, genocídios e de espoliação da grande maioria dos seres humanos, nem destruído ainda o ecossistema na intensidade e abrangência necessárias para que se produza a sua autodestruição, como sistema, e talvez da humanidade inteira, por isso ainda permanece firme e forte, aparentemente muito bem estruturado e sem exibir fissuras e rachaduras em suas estruturas.
 
Os vários movimentos, personagens e fatos históricos que surgiram parecem ter contribuído, de alguma forma, para que esse sistema retardasse um pouco a sua expansão e a plena fluidez de sua pulsão de morte. É nessas forças contrárias à grande força do sistema espoliador, homicida, destruidor e autodestruidor que Chavez se enquadra, como uma passagem de luz em meio a um umbral. Luz que passa, traz alguma esperança aos espoliados de olhar vazio, mas em algum momento se vai, e há o retorno do sofrimento sem fim.
 
Mais do que líderes ímpares que surgem de tempos em tempos, às vezes em espaços de tempo grandes, existe a necessidade urgente de consciência, por parte dos condenados a uma vida sem vida sob o sistema capitalista,  do que é esse sistema e do quanto ele ameaça suas vidas e dignidades, e de muita, muita força por parte desses condenados a fim de fazer frente à força espoliadora, excludente, destruidora e autodestruidora representada por esse sistema.
 
Sem isso, não há esperança.
 

domingo, 9 de dezembro de 2012

Financeirização, oligopolização e barbárie

Os dois textos de François Chesnais, escritos originalmente para o Sin Permisso e publicados também no sítio da Carta Maior, são longos e de difícil compreensão para os que há pouco tempo iniciaram suas leituras sobre os temas abordados, mas partes deles são compreensíveis e nelas aprendemos, entre outras coisas, aquilo de que tomamos conhecimento em boas e muito boas aulas de História ministradas nos cursos secundários, em cursinhos preparatórios para os vestibulares de diversas faculdades e em mídias diversas (no You Tube, por exemplo). Qual seja: o de que a nova fase do sistema capitalista consiste no domínio do sistema financeiro, na constituição de poderosos monopólios e oligopólios nacionais (isto é, dentro das próprias fronteiras nacionais) e transnacionais, e na mundialização (muitos preferem a expressão globalização) desse sistema.
 
Neles somos informados de que houve e continua a haver uma mundialização do sistema capitalista com uma consequente maior interconexão dos mais diversos países para (a sequência é de minha autoria) uma maior e melhor expansão desse sistema, principalmente após o “esboroamento” do chamado “socialismo real” e da paulatina sabotagem de todo e qualquer governo que pretenda implantar qualquer tipo de sistema econômico que traga de volta, mesmo que apenas em alguns aspectos, o que um dia chamou-se Estado de bem-estar social.
 
Somos também informados de que “A tendência é endurecer as políticas de austeridade e montar uma operação de resgate total de grandes instituições financeiras, bancos e empresas) da qual não escape nenhum país. No entanto, a situação europeia não pode ser compreendida independentemente da consideração da situação da economia mundial em sua totalidade”, o que vem a corroborar com a tese exposta no parágrafo anterior, pois (idem ao parentesis do parágrafo anterior) essas políticas de austeridade vão no sentido de aproveitar-se de uma crise financeira (em sua origem) e econômica construída pelo próprio sistema capitalista neoliberal para desfazer e extinguir toda uma estrutura de Estado voltada para conceder um mínimo de proteção social às pessoas que por alguma razão não conseguem  viver de seus próprios recursos, ou que integravam a estrutura do estado (servidores públicos e funcionários de empresas de serviços essenciais e/ou estratégicos), ou ainda, que contribuíram para o sistema de previdência do tipo repartitivo do próprio país, além de abolir leis que visam a proteger a dignidade dos que dependem do trabalho para a subsistência.
 
Assim procedendo, a elite econômica (associada à transnacional e sendo ela própria transnacional) europeia extingue ou privatiza a parte do Estado voltada para a prestação de serviços essenciais à preservação da vida e dignidade humanas, bem como os estratégicos, e se concentra no subsídio ao capital, não necessariamente tornando-o mínimo, como querem ansiosa e raivosamente os mais radicais defensores do Estado mínimo, pois a manutenção de verdadeiras máquinas de guerra e de sistemas de segurança internos requer, muitas vezes, vultosos recursos, ocorrendo o mesmo no que tange ao socorro de grandes instituições financeiras e empresas tal como visto na crise atual iniciada nos EUA e espraiada por divesas outras regiões do mundo.

Percebe-se, nas entrelinhas dos muito bons textos de Chesnais, apesar de dito de outra forma, que um dos pilares fragilmente estruturados do sistema capitalista neoliberal são empréstimos, nas suas mais variadas formas, que são utilizados para de um lado gerar mais lucros para uma minoria (a elite financeira e dos grandes oligopólios), e de outro para possibilitar que classes sociais fortemente espoliadas pelo próprio sistema possam retroalimentar o mesmo sistema excludente e espoliador sem que os estruturadores desse sistema se preocupem com seu caráter autodestrutivo.
 
Sob esse sistema excludente e de horror está toda a humanidade, não escapando sequer minorias que vivam em partes pouco habitadas dos continentes ou em ilhas, pois as atividades do sistema e sua máquina de sucção de recursos naturais e de biodiversidade não poupam lugar algum em que estes existam, a esta máquina sugadora se soma o caráter destrutivo do sistema que ameaça a vida humana e a de muitas espécies animais e vegetais por toda a parte.
 

 
A luta de classes na Europa e as raízes da crise econômica mundial - Parte I
François Chesnais - Sin Permisso e Carta Maior
09/07/2012


 
A luta de classes na Europa e as raízes da crise econômica mundial - Parte II
François Chesnais - Sin Permisso e Carta Maior
20/07/2012