domingo, 21 de fevereiro de 2010

Mais um flagelo: o assédio moral

Contraditoriamente às expectativas de melhora nos indicadores econômicos e na confiança no futuro, prevalece nas relações entre os detentores de capital e os dependentes do trabalho para a subsistência deste País o flagelo do assédio moral para estes últimos, ocasionando-lhes uma série de doenças psíquicas e psicossomáticas não reconhecidas por uma ampla gama de profissionais da assistência à saúde, e igualmente  nem sempre adequadamente combatidas e punidas pelos órgãos federais responsáveis por combatê-las, tais como o Ministério Público do Trabalho e o Tribunal de causas trabalhistas. 

Como se não fossem suficientes ter de pegar veículos de transportes apinhados de gente, ter de comer de marmita, o recebimento de um salário muito baixo e insuficiente até mesmo para alimentar-se e a seus entes queridos, o risco eminente de demissão sem justa causa e as discriminações odiosas (por motivo de idade, gênero, cor,  etnia, aparência, tempo na condição de desempregado e de permanência nas últimas empresas, entre outras) de que são vítimas quando se oferecem para trabalhar em alguma empresa, proliferam os relatos de assédio moral contra os que dependem do trabalho para a subsistência nas relações trabalhistas, seja na esfera pública, privada ou de economia mista. 

O assédio moral caracteriza-se por uma série de abordagens repetitivas por parte de superiores hierárquicos dirigidas a um ou mais subordinados nas quais estão presentes os mais diversos golpes à psique destes últimos, alguns dos quais caracterizados por (entre outros): advertências,  humilhações e criação de situaçãoes vexatórias diante dos demais subordinados, nas quais percebe-se a ameaça implícita e explícita de demissão; exigência de realização de trabalho e metas muito difíceis ou mesmo impossíveis de serem atingidas pelo(a) funcionário(a) assediado(a); ricularização, depreciação, desprezo e indiferença diante das dificuldades por parte do(a) funcionário(a) em conseguir terminar os trabalhos e funções que lhe foram atribuídos; por fim, culpabilização do(a) mesmo(a) pelas deficiências no setor..

Os procedimentos ilegais por parte de superiores hierárquicos expostos no parágrafo anterior incluem igualmente o controle e a cronometragem do tempo de ida e volta do(a) funcionário(a) ao banheiro, bem como no isolamento e criação de um ambiente hostil a(o) funcionária(o) a fim de forçá-lo a pedir sua demissão. Estes são alguns (apenas alguns) dos comportamentos de superiores hierárquicos com relação a seus subordinados os quais caracterizam o assédio moral no trabalho, e resultam em sofrimento psíquico e adoecimento da vítima desse mal amplamente praticado no Brasil.

Não há perspectiva de que esse quadro se altere em benefício dos que dependem do trabalho para a subsistência, pois a ideologia neoliberal dominante em nosso país e na maior parte dos países do mundo favorece esse estado de coisas, ao constituir-se com uma poderoso instrumento de exclusão e de absorção de mais-valia dos que precisam do trabalho para sobreviver.


terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

A Grécia e o Consenso de Maastricht

Parece-me que as poucas características de alguns países europeus, mistura de liberalismo aplicado ao mundo real com intervenções pontuais e insuficientes do Estado na área social  e  da regulação macroeconômica, porém significativas no apoio ao capital,  não combinaram de forma adequada em certos países como Grécia, e, talvez - o tempo nos mostrará - Portugal, Espanha e Irlanda. Talvez o caso da Itália seja diferenciado por este país ainda reunir condições de obter empréstimos das mais diversas instituições em melhores prazos e condições do que os ofertados aos quatro países citados.

A admissão da Grécia, Portugal, Irlanda e Espanha à União Européia e, posteriormente, a adesão desses países ao Tratado de Maastricht sem que tivessem condições de adotarem uma moeda única, controlada por um banco central europeu muito mais sintonizado com a realidade econômica de países como Alemanha e França do que com a Grécia, por exemplo,  parece ter sido uma das causas dos problemas econômicos atuais do país berço da filosofia ocidental. Se atentarmos para a origem dos credores dos títulos gregos, por exemplo, veremos que parte significativa é da Alemanha e da França, justamente os dois países mais desenvolvidos e que tiveram a sua elite econômica como principal beneficiária da criação de uma moeda comum.

Uma outra causa, corroborada pelo excelente artigo de Hideyo Saito "Tributação desigual e miséria, saldos da hegemonia neoliberal", publicado na Carta Maior, foi o chamado sistema tributário regressivo adotado por diversos países do mundo, ditos desenvolvidos, "emergentes" e subdesenvolvidos desde quando o neoliberalismo se tornou hegemônico, no início dos anos 1980, o qual reduz significativamente os impostos incidentes sobre a renda, patrimônio e herança dos mais ricos, e os faz recair sobre a renda da chamada classe média e sobre os produtos e serviços consumidos pelos mais pobres.

Uma outra, ainda, diz respeito ao darwinismo econômico aos quais os mais diversos países são lançados quando seus governantes se rendem ao bordão thatcheriano - de Margareth Thatcher - "there is not alternative", e se inserem de forma subordinada tanto na globalização quanto em uma união monetária que tende a favorecer o(s) países mais fortes de um bloco que se proprõe tal união .






A Quem tiver tempo e disposição, sugiro a leitura dos textos contidos nos links abaixo.  
2) o caminho da servidão, da Grécia a Letônia
3) Tributação desigual e miséria, saldos da hegemonia neoliberal