terça-feira, 16 de fevereiro de 2010

A Grécia e o Consenso de Maastricht

Parece-me que as poucas características de alguns países europeus, mistura de liberalismo aplicado ao mundo real com intervenções pontuais e insuficientes do Estado na área social  e  da regulação macroeconômica, porém significativas no apoio ao capital,  não combinaram de forma adequada em certos países como Grécia, e, talvez - o tempo nos mostrará - Portugal, Espanha e Irlanda. Talvez o caso da Itália seja diferenciado por este país ainda reunir condições de obter empréstimos das mais diversas instituições em melhores prazos e condições do que os ofertados aos quatro países citados.

A admissão da Grécia, Portugal, Irlanda e Espanha à União Européia e, posteriormente, a adesão desses países ao Tratado de Maastricht sem que tivessem condições de adotarem uma moeda única, controlada por um banco central europeu muito mais sintonizado com a realidade econômica de países como Alemanha e França do que com a Grécia, por exemplo,  parece ter sido uma das causas dos problemas econômicos atuais do país berço da filosofia ocidental. Se atentarmos para a origem dos credores dos títulos gregos, por exemplo, veremos que parte significativa é da Alemanha e da França, justamente os dois países mais desenvolvidos e que tiveram a sua elite econômica como principal beneficiária da criação de uma moeda comum.

Uma outra causa, corroborada pelo excelente artigo de Hideyo Saito "Tributação desigual e miséria, saldos da hegemonia neoliberal", publicado na Carta Maior, foi o chamado sistema tributário regressivo adotado por diversos países do mundo, ditos desenvolvidos, "emergentes" e subdesenvolvidos desde quando o neoliberalismo se tornou hegemônico, no início dos anos 1980, o qual reduz significativamente os impostos incidentes sobre a renda, patrimônio e herança dos mais ricos, e os faz recair sobre a renda da chamada classe média e sobre os produtos e serviços consumidos pelos mais pobres.

Uma outra, ainda, diz respeito ao darwinismo econômico aos quais os mais diversos países são lançados quando seus governantes se rendem ao bordão thatcheriano - de Margareth Thatcher - "there is not alternative", e se inserem de forma subordinada tanto na globalização quanto em uma união monetária que tende a favorecer o(s) países mais fortes de um bloco que se proprõe tal união .






A Quem tiver tempo e disposição, sugiro a leitura dos textos contidos nos links abaixo.  
2) o caminho da servidão, da Grécia a Letônia
3) Tributação desigual e miséria, saldos da hegemonia neoliberal  





2 comentários:

Rafael Reinehr disse...

Importante salientar a questão demográfica. Nos países europeus, até a d]ecada de 70, se vivia em plena "barriguinha"demográfica, um período em que o número de crianças e idosos era pequeno em relação à população ativa laboralmente. Estes dias de fartura acabaram, e estão chegando no Brasil agora. Será que saberemos aproveitá-los melhor que nossos compadres d'além mar?

Francisco de la Cruz disse...

Rafael, esta não é uma questão fácil de ser respondida. Mas gostaria de frisar que quando se fala em crescimento vegetativo da população de forma a aumentar a expectativa de vida dos idosos e rarear o número de trabalhadores que contribuem para os sistemas de previdência públicos, não se menciona o fato de outras fontes podem ser buscadas para financiar esse sistema. Há também também a questão dos altos índices de desemprego e subemprego criados pelo próprio capitalismo neoliberal, os quais igualmente contribuem para minar um sistema público de previdência baseado em contribuições dos próprios trabalhadores na ativa, o que reforça a tese da necessidade de fontes alternativas para financiar o referido sistema.