domingo, 20 de dezembro de 2009

Não há banheiros públicos em São Paulo

Na maior cidade do país são raros os sanitários públicos. Quem tiver algum impulso fisiológico vital em pleno centro da cidade e não aparentar ser (ou estar)  cliente, empreendedor, funcionário altamente especializado ou capital humano dotado de qualidades ímpares para o sistema do capital (quem não acompanha o que escrevo por aqui terá alguma dificuldade para entender o que escrevi, reconheço, mas por enquanto que fique assim mesmo) correrá o risco eminente de ser olhado com um certo ar de desprezo pelo dono ou funcionário de algum estabelecimento comercial ao qual se recorra para dar vazão a tal impulso; e o pior, ter o seu pedido para usar o banheiro local negado, pois quem não é freguês não aparenta condição de sê-lo não tem o direito de usá-lo em muitos estabelecimentos comerciais.

Os poucos banheiros públicos que deveriam existir em quantidade suficiente para atender ao enorme número de pessoas que viajam - sim, o termo é este mesmo - ao centro de São Paulo, são muito difíceis de ser encontrados, e quando o são, nota-se um abandono quase que completo por parte do poder público municipal, em razão de seu mau estado de conservação e precárias condições de segurança. Alimenta-se, assim, o mito de que tudo ou quase tudo que é administrado pelo governo o é da forma mais desleixada possível.


Há que se separar, neste e em muitos outros casos, o conceito de Estado do  de governo, pois são dois entes diferentes. Um fato é certo governo municipal tratar com indiferença e desprezo o drama dos que se deslocam ao centro e não têm dinheiro para tomar um cafezinho, um refrigerante ou comprar um pequeno copo d'água como uma forma de obter um passaporte para o uso do banheiro de um estabelecimento comercial estando longe de suas casas. Outro é confundir esse governo (municipal e transitório) com o Estado e reforçar os diversos mitos propagados pelos mais diversos e poderosos veículos de comunicação de que tudo o que é administrado pelo Estado gera deficit, estruturas precárias e mal conservadas, além de serviços pessimamente prestados.


Este é o quadro existente na cidade de São Paulo onde prevalece a indiferença e o desprezo pelas necessidades de nosso semelhante, especialmente dos mais pobres,  seja por parte do poder público municipal, seja por parte de donos ou gerentes de estabelecimentos comerciais,  ou até mesmo de pessoas que também são vítimas - alguns funcionários dos estabelecimentos comerciais, moradores de bairros periféricos e igualmente pobres,  aos quais é dado o poder de decidir quem pode e quem não pode usar o banheiro do local - de um sistema  que coloca a inviolabilidade da propriedade acima da vida e da dignidade humanas.



Não há banheiros públicos na cidade de São Paulo.





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