sábado, 13 de março de 2010

O gargalo da qualificação profissional

De tempos em tempos ressurge nos mais diversos veículos de comunicação a questão da falta de graduação escolar e qualificação profissional por parte dos que procuram emprego, ao mesmo tempo em que, paradoxalmente, alardeia-se o impressionante número de vagas que restam sem ser preenchidas. Que está acontecendo, afinal, neste País?

Não são poucas as matérias veiculadas nas emissoras de televisão abertas (Globo, Record, SBT e Bandeirantes, entre outras) e revistas semanais lidas pelas classes médias (Veja, Época, e outras) que expõem a existência desse "gargalo", o qual vem a se juntar a outros (o da energia elétrica, o dos serviços aeroportuários  e portuários, o da própria educação pública e outros) , e se constituem em alguns dos grandes impedimentos para que essa Terra de concentração de renda e de riqueza participe das delícias do chamado "Mundo Desenvolvido".

Querem construir um Homo sapiens sapiens competitivus vindo das periferias das grandes cidades apoiando fortemente governos que oferecem salários e condições aviltantes aos profissionais do sistema educacional brasileiro, e esquecendo-se de que quem de fato quer cuidar dos filhos das periferias e dos centros degradados deste País, deve cuidar também dos pais e/ou responsáveis, consanguíneos ou não, destes mesmos jovens, os quais  sejam verdadeiramente ligados a eles do ponto de vista afetivo - isso talvez seja muito mais importante do que simples consanguinidade.

Este descuido e desprezo por esses últimos se dá sempre que perseguem o objetivo de aprofundar as reformas de inspiração neoliberal, as quais transformam o Estado em estado mínimo para os que dependem das aposentadorias, pensões, assistência social e auxílio por motivo de doença e afastamento do trabalho, entre outros sistemas de proteção social, privatizando e/ou tornando tais sistemas mais difíceis ainda de serem alcançados pela maioria dos pobres e miseráveis. Os mesmos pobres e miseráveis que abrigam e cuidam dos jovens  com os quais tantos membros da elite econômica se dizem preocupados e os querem transformar em "capitais humanos".

Não menos contraditório é constatar que os mesmos veículos de comunicação citados  são os  que manifestam forte irritação contra os baixos níveis educacionais e de qualificação profissional no Brasil, e que dão forte apoio aos parlamentares e tecnocratas que se revoltam a todo momento contra os chamados gastos correntes do governo, os quais são compostos, entre outros, pelos sistemas de educação e (re)qualificação profissional fornecidos e/ou financiados pelo Estado. Usam para isso alguns de seus personagens mais vistos, ouvidos e lidos  por  individualistas reacionários e por ingênuos, os quais cospem todo o seu desprezo e raiva contra os diversos profissionais do sistema público e gratuito de ensino (os diretores, os coordenadores pedagógicos, os professores e demais profissionais) de primeiro, segundo e terceiro graus, apontados como os grandes responsáveis pela precarização do sistema.

Para finalizar, existe ainda a indignação da elite econômica  e seus tecnocratas quanto à falta ou  à precariedade da (re)qualificação profissional propriamente dita de milhões de trabalhadores brasileiros - excluída a educação formal de primeiro, segundo e terceiro graus -, a qual se revela como uma hipocrisia que lhes é ambundante, pois nas regiões metropolitanas e no campo onde grassam o desemprego e o subemprego, são pouquíssimos ou inexistentes os cursos técnicos gratuitos de qualidade muito boa, e cujo número de vagas seja suficiente para atender à procura deseperada por esses cursos por parte de uma massa enorme de seres humanos. Veja-se as entidades por eles administradas - as quais recebem, inclusive, recursos dos próprios trabalhadores e do Estado -, tais como o SENAI, SENAC, SESI, SESC e outros (o chamado sistema S), as quais disponibilizam pouquíssimas vagas gratuitas para essa mesma massa excluída, cobrando preços inacessíveis por grande parte de seus cursos à grande maioria dos marginalizados pelo sistema capitalista de vertente neoliberal.

Reforma do "sistema S" gera debate acalorado
Governo desiste de acabar com a autonomia do "sistema S"




Assista ao debate sobre o "sistema S" (Senai, Senac, Sesc e Sesi) havido no auditório do jornal Folha de São Paulo, na capital paulista, em que houve forte reação dos dois representantes de poderosos grupos econômicos contra a proposta do governo Lula em monitorar e aumentar o número de cursos profissionalizantes gratuitos dessas entidades.






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