domingo, 27 de novembro de 2011

O capital, o cliente, o lixo orgânico e outros entes

Desde há vários anos, quando se intensificaram as reformas de inspiração neoliberal, alguns poucos entes foram alçados à condição transitória de senhores e senhoras do sistema, sendo uma grande maioria marginalizada e utilizada apenas como uma espécie de gás metano a mover a imensa e poderosa máquina do sistema capitalista. Dentre esses entes constam: o empreendedor e/ou especulador, o cliente e o capital humano gerido por um dos dois primeiros, ou por si mesmo. O resto, composto pela maioria, não passa de lixo ambulante não-reciclável, espécie  de lixo orgânico a ser descartado.

Os dois primeiros entes do sistema (o empreendedor e o especulador) estão incluídos e são muito valorizados pelos mais diversos veículos e formas de comunicação (escrita, audiovisual, simbológica, etc), os quais se esforçam ao máximo para impingir nas diversas psiques a essencialidade de ambos na promoção do crescimento e desenvolvimento do país, e na consequente ascensão econômica e social de seus cidadãos. E para que os espíritos desses dois entes possam manifestar-se da melhor forma possível na promoção dos objetivos citados, as forças que os representam, presentes na elite econômica e nos próprios veículos mencionados, defendem ferrenha e obstinadamente as mais diversas reformas estruturais (econômicas, políticas e institucionais) com o intuito de  destruir o precário Estado de bem-estar social financiado por alguns impostos, de suprimir direitos e proteção aos que dependem do trabalho para a subsistência, e de aumentar ainda mais suas próprias riquezas.

São essas reformas estruturais de inspiração neoliberal - próprias do capitalismo selvagem - que fazem aumentar ainda mais a concentração de renda e riqueza nas mãos da elite econômica "nacional" e transnacional, e se traduzem em reforma do sistema previdenciário, exigindo um maior número de contribuições e uma idade ainda mais avançada para a concessão da aposentadoria (em países nos quais pessoas com mais de 35 anos de idade já não servem mais para diversos ofícios), ou simplesmente na sua privatização,  em extinção de diversos auxílios aos mais pobres e desvalidos (LOAS, Bolsa-Família, entre outros), em extinção ou em exigências ainda maiores para a concessão do já precário seguro-desemprego, em uma possível desvinculação dos reajustes do salário mínimo dos benefícios previdenciários e assistenciais, e em um sistema mais rigoroso ainda na concessão de licenças ou aposentadorias por motivo de saúde.

No aspecto das relações entre o capital e o trabalho, as marcas dessas reformas são mudanças na legislação trabalhista com a firme intenção de suprimir direitos e proteções aos que dependem do trabalho para sobreviver e, por fim, mas sem considerar encerrada as maldades contidas no saco, na demissão de funcionários públicos e na depreciação dos vencimentos dos que sobreviverem aos cortes, além de ampla terceirização dos mais diversos serviços prestados diretamente pelo Estado.

O terceiro ente no qual o sistema se apóia é o cliente, cuja função é a de comprar os produtos e/ou contratar os serviços oferecidos pelo capital, e vendidos ou prestados pelos que dependem do trabalho para sobreviver, ou por sistemas informatizados e automatizados que aparentemente prescindem do trabalho humano, mas o tem em alguma parte da cadeia de produção, distribuição ou prestação de serviço. Este ente está incluído no sistema de forma diretamente proporcional a sua capacidade de adquirir produtos e contratar serviços oferecidos pela elite econômica, ou por pequenos e médios grupos econômicos que igualmente estão incluídos no sistema.

Quando, no entanto, extingue-se a capacidade do referido ente de adquirir produtos e contratar serviços, este se transforma no mesmo lixo ambulante não-reciclável a que foram transformados os pobres, os miseráveis, os desvalidos e os que necessitam do trabalho para subsistir.

O quarto ente é o capital humano, o qual consiste em um ser humano munido de capacidades valorizadas pelos que estão empreendedores e clientes, sendo vistos pelos primeiros como uma fonte de lucro por sua capacidade intelectual, artística, de jogador ou atleta, ou ainda, de atração sexual, entre outras, e para os segundos (os que estão clientes) como um meio através do qual atingem os prazeres de seus sentidos, seja assistindo-os, seja possuindo suas obras, seja fazendo imaginariamente as vezes de seu próprio ego projetado e/ou idealizado, e ou até mesmo satisfazendo-o em termos afetivos e sexuais.


Este capital humano que por vezes se confunde com um prestador de serviço só se afirma como capital quando e se se projeta no sistema excludente deixando de ser uma mercadoria e se fazendo, de fato, parte do capital na qualidade de gerenciador de si mesmo.


O quinto e último ente é aquele desprovido dos atributos expostos nos parágrafos antecedentes, e se constitui na maioria dos seres humanos espoliados de condições mínimas de subsistência. Poucos são os de fato incluídos no sistema, e mesmo no caso destes, somente após o fim de suas vidas neste mundo é que poderão ser classificados como tais, existindo permanentemente o risco de virem a se transformar no lixo ambulante não-reciclável composto pela maioria.




Este texto ainda   está "em construção", devido a minha falta de tempo  disponível para   terminá-lo, e também em razão  de sua complexidade e minha grande dificuldade em concluí-lo como um pensamento.

 

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